Há dez anos, o mês de junho passou por uma metamorfose, tornando-se praticamente um sinônimo para manifestações de rua. A data também se associou de forma umbilical à discussão sobre transporte público. O mesmo aconteceu com o debate sobre repressão policial, bombas de gás e balas de borracha. Black blocs, direito à cidade, gastos públicos, representatividade política — uma série de outras pautas e reivindicações foram se somando a esse grande fato histórico e popular que foram as Jornadas de junho de 2013.
Desde então, a experiência de se manifestar e ocupar as ruas no Brasil teve uma série de outros capítulos — alguns correlatos às jornadas, outros antagônicos. Milhares foram às ruas pelo “Não vai ter Copa”, ainda em 2013 e no ano seguinte. Em 2015 e 2016, manifestações em sequência disputaram a legitimidade do impeachment de Dilma Rousseff (PT). O ano de 2015 também marcou a ocupação de escolas por alunos do Ensino Médio de São Paulo contra decisões do então governador, Geraldo Alckmin, atual vice-presidente. Já em 2016, foi a vez de secundaristas de todo o país e também universitários se rebelarem contra a PEC do Teto de Gastos, mudanças no currículo do Ensino Médio e outras propostas de interferência na política educacional.
A lista de protestos de rua populares segue em 2018 com atos a favor do então candidato Jair Bolsonaro, e durante os quatro anos da sua presidência — muitos deles incentivados, institucional, midiática e financeiramente pelo próprio ex-presidente. Acampamentos que pediam golpe de Estado nas portas dos quartéis e o eventual atentado em Brasília de 8 de janeiro deste ano também beberam desse caldo popular de protestos.
Mas as ruas não foram monopólio de atos de grupos conservadores. Os últimos anos também viram os enormes protestos contra o racismo do Vidas Negras Importam (Black Lives Matter), de entregadores de aplicativos e de coletivos antifascistas. As ruas também foram ocupadas por movimentos que rechaçavam Bolsonaro, sob gritos de “Ele Não” e a favor das vacinas. A lista é enorme, e também inclui marchas de mulheres, a favor da descriminalização da maconha, movimentos contra a violência nas periferias e favelas, marchas de populações indígenas, paradas LGBTQIAP+, dentre tantas outras manifestações populares.
Neste especial, a Agência Pública traz reportagens e reflexões sobre alguns desses momentos. Apuramos que o Movimento Passe Livre, que deu o pontapé em 2013, segue ativo e pautando a gratuidade no transporte público. Mostramos os dados de pesquisas com semelhanças e diferenças no perfil dos manifestantes em alguns dos atos da década. Revelamos que estudantes que ocuparam a Universidade Tecnológica no Paraná em 2016 foram processados, numa disputa que seguiu até este ano. E mostramos como a direita foi se radicalizando desde o impeachment de Dilma até Bolsonaro.
Reportagens
Dez anos de protestos: qual o perfil dos manifestantes que vão às ruas no Brasil?
Processo contra estudantes que ocuparam universidade do Paraná em 2016 só terminou em 2023
Dos 20 centavos à tarifa zero – a jornada do MPL
Do impeachment à tentativa de golpe, direita também passou a ocupar as ruas
O que já investigamos
Ao longo da última década, a Pública investigou o inquérito black bloc movido pela polícia de São Paulo contra manifestantes de 2013, apuramos que policiais brasileiros foram treinados nos EUA para atuar nas manifestações, cobrimos as violações de direitos humanos na Copa de 2014 e revelamos como a direita “mudou de roupa” e se reposicionou no discurso político nacional. Leia essas reportagens aqui.
Quem grita ‘Não vai ter Copa’?
O “inquérito do Black Bloc”
EUA treinaram policiais para conter manifestações na Copa
A nova roupa da direita
Meu nome não é Sininho
Equipe
Reportagem: Bianca Muniz, Bruno Fonseca, José Cícero e Rafael Oliveira.
Edição: Bruno Fonseca, Mariama Correia e Paula Bianchi.
Identidade visual: Ravi Spreizner e Samantha Prado.
Site: Raphaela Ribeiro e Ana Alice.