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Após 11 dias de naufrágio na Guiana Francesa, há pelo menos 19 desaparecidos; familiares reclamam de falta de informações

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Após 11 dias do naufrágio de uma canoa no Oceano Atlântico, na costa da Guiana Francesa, ainda são pelo menos 19 brasileiros desaparecidos, de acordo com relatos de sobreviventes à polícia francesa que, até o momento, resgatou 4 tripulantes e 1 corpo ainda não identificado em alto mar.

A embarcação partiu de Oiapoque, no extremo Norte do Amapá, com destino ao departamento francês. Todos viajaram em busca de trabalho e melhores condições de vida, mas, desde o naufrágio, segue o drama de familiares em busca de respostas.

Parentes reclamam de falta de informações que ajudem a localizá-las. Ainda não há uma lista oficial de mortos ou desaparecidos da viagem.

Carlos Adriano Almeida, de 22 anos, viajava com a esposa Karine Oliveira Soares, de 18 anos. Na embarcação também estavam a mãe dela, Geane Oliveira, de 43 anos, e a irmã dela, Géssica Oliveira Soares, de 22 anos. A família diz que eles saíram em julho do Maranhão com a intenção de trabalhar num garimpo na região de fronteira.

“Eu estou desesperada, quero notícias do meu filho. Eu não quero que o pior tenha acontecido, mas faço um apelo para que nos informem o que aconteceu. Ele fez essa viagem contra a minha vontade. Eu nunca quis que meu filho fosse pra esse lugar distante, perigoso. […] Tem muitas fake news. Isso vai acabando com a gente, a falta de notícias.

Eu peço ajuda para ter uma solução, uma resposta sobre eles”, falou a mãe de Adriano, Jonilde Almeida, de 43 anos.
Os familiares dos desaparecidos que moram em outro estado contam com ajuda de conhecidos e amigos de quem viajou na canoa. É o caso de Márcia Santos, de 33 anos, que mora no Amazonas e perdeu contato com a mãe.

“Nós ficamos sabendo só no sábado (4) do que aconteceu. Amigos da minha mãe entraram em contato com a minha irmã falando que uma sobrevivente disse ter visto minha mãe sendo levada pela água. Ela contou que teve superlotação, que o mar estava muito agitado e a canoa virou, teve muito desespero. Quem está mantendo a gente informada mesmo são os próprios parentes e amigos que estão buscando lá”, relatou Márcia.

Maria da Conceição Silva Santos, conhecida como Silvia, de 58 anos, nasceu no Maranhão mas vivia com a família em Roraima antes de morar por temporadas no Suriname. Ela viaja há mais de 20 anos pela região para trabalhar em garimpos. O último contato com a família ela teve em Manaus, em 26 de agosto, 2 dias antes do embarque em Oiapoque.

“Ela começou indo para o Suriname, passava 3, 4 anos, voltava ficava um ano com a família, e ia de novo. Dessa vez uma amiga convidou para ir para um garimpo novo, numa rota nova. […] Me sinto impotente porque não sei se minha mãe tá viva, se morreu. A gente não consegue confirmação, não pode se sentir aliviada, mas também não pode viver o luto. Estamos vivendo dias angustiantes”, disse.

Ambas as famílias ainda não sabem o que fazer para achar os desaparecidos. Na terça-feira (7), a Polícia Federal (PF) informou que abriu investigação sobre o caso e convocou parentes para coleta de material genético, que será encaminhado para a Guiana Francesa para exames de DNA. De acordo com o governo francês, as buscas localizaram, até quarta-feira (1º), quatro pessoas com vida e um corpo sem identificação.

Além da convocação de familiares pela PF, uma base foi montada em Oiapoque organizada pelo governo do Amapá com órgãos como o Corpo de Bombeiros e o Centro de Cooperação Policial Franco-Brasileiro.

Nas redes sociais, Lana Silva publicou um texto pedindo ajuda para localizar a filha Ellen Pantoja dos Santos, conhecida como Keury Santos. Ela diz que Ellen estava na canoa que desapareceu no Atlântico.

“Estou desesperada pois não estou conseguindo obter notícias do lado Francês. Desde já obrigada. Que Deus nos dei forças nesse momento de aflição”, escreveu.

Ivonete de Souza Melo busca pelo irmão, Raimundo de Souza Melo, de 44 anos, que telefonou para a família pouco antes de entrar na canoa, para avisar da viagem.

“Ele estava acostumado a viajar de canoa e ia para Guiana procurar trabalho. […] Ele fez essa viagem procurando melhor para família dele, atrás de sobrevivência, do jeito que está nosso país, não está fácil com o custo de vida, ele não fez nada errado. Minha mãe está desesperada por notícias do filho. Então eu peço para as autoridades ajudarem, para dar apoio, porque independente de serem ilegais, eles são seres humanos”, afirmou Ivonete.

Ingridh de Souza Pereira, de 29 anos, também é procurada por familiares que dizem que ela estava na embarcação que naufragou no dia 28 de agosto. Segundo uma cunhada relatou, Ingridh ficaria até o fim do ano na capital da Guiana Francesa trabalhando como doméstica e então retornaria para Santana, no Amapá.

“Ela iria encontrar com um cunhado que está lá, mas ele é acostumado, sempre vai para trabalhar como pedreiro clandestino. Como ela não chegou no dia esperado, ele ligou preocupado. A irmã da Ingridh foi para Oiapoque atrás de notícias, já esteve em hospital, funerária, PF e ninguém tem notícias. Estamos desesperados”, contou Glissy Aguiar.

Exames de DNA

A convocação dos familiares de brasileiros é para comparecimento nas sedes da PF em Oiapoque e em Macapá, na quinta (9) e sexta-feira (10). Nos endereços:

Delegacia da PF em Oiapoque: Avenida Barão do Rio Branco, número 500, bairro Centro. Fone: (96) 3521-1380.
Superintendência da PF em Macapá: Entroncamento da BR-210 com a Rodovia Norte/Sul, sem número, bairro Infraero 1. Fone: (96) 3213-7500.
Naufrágio e resgate
Em comunicado, a prefeitura da região da Guiana Francesa detalhou que a operação de resgate no mar foi iniciada depois que uma embarcação encontrou uma mulher agarrada em uma boia.

Ela estava no canal de acesso ao porto de Kourou, do lado francês, e contou, segundo a nota, que estava à deriva depois que a canoa em que ela estava naufragou na noite de 28 de agosto.

Foram destinadas à região um helicóptero e embarcações especializadas “para procurar possíveis náufragos em uma ampla faixa costeira de Caiena a Sinnamary”, cidades que ficam distantes 100 quilômetros uma da outra.

As buscas foram feitas por dois dias, na terça (31) e na quarta-feira (1º), e foram resgatadas 4 pessoas com vida, em diferentes pontos do mar, e um corpo sem identificação. Com a decisão do governo francês de suspender as buscas, um grupo de voluntários resolveu procurar desaparecidos por conta própria em alto mar.

O Ministério Público de Caiena abriu um inquérito policial judicial, confiado à Brigada Marítima de Caiena. No Brasil, o inquérito é conduzido pela PF.

Fonte: G1.

 

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