Ao ser empossado como novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o professor e doutor em física Ricardo Galvão relembrou a desavença com Jair Bolsonaro (PL) – que o levou a sair do governo em 2019 – em torno dos dados de desmatamento.
“Há poucos meses derrotamos a truculência em nosso país”, comemorou, emocionado, o novo presidente do CNPq, no discurso de posse, em cerimônia realizada nesta terça-feira (17), na sede do órgão, em Brasília.
Ricardo Galvão foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até ser exonerado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro – que acusou o Inpe de mentir sobre dados relacionados ao desmatamento na Amazônia.
Galvão chamou de “embate” a discussão que teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro, em julho de 2019.
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“Houve muita repercussão na imprensa nacional e internacional.” Ao citar artigos publicados à época de sua exoneração, Galvão lembrou de pesquisadores do passado que foram executados por apresentar resultados científicos que contrariavam interesses políticos de poderosos.
Ricardo Galvão disse que recebeu agradecimentos por mensagens de apoio, que o elogiaram por manter a honra ao ser firme e contrário aos posicionamentos do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Galvão agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à ministra Luciana Santos, pela confiança, e à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva – que o incentivou a aceitar o cargo.
A escolha de Galvão para o órgão, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), foi anunciada pela ministra da pasta, Luciana Santos, que reforçou a intenção do governo Lula ao trazer de volta Galvão para a área científica do governo federal, como forma de contrapor a controversa exoneração dele do Inpe.
“Estamos virando essa página”, disse a ministra. De acordo com Luciana Santos, a nomeação de Ricardo Galvão para o CNPq traduz a mensagem de que “a ciência está de volta ao Brasil”.
“Hoje é o dia em que se faz justiça à ciência brasileira. Hoje sepultamos o negacionismo ambiental e exaltamos o trabalho do Inpe”, completou.
Como presidente do CNPq, Ricardo Galvão vai comandar o principal órgão do governo federal de estímulo à pesquisa científica e de formação de pesquisadores, com cerca de 80 mil bolsistas.
Galvão é professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, possui mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas, obtido em 1972, e um doutorado em Física de Plasmas pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, concluído em 1976.
Ricardo Galvão foi indicado pela revista Nature para o primeiro lugar de uma lista das dez pessoas mais importantes para a ciência em 2019. Em 2021, recebeu o Prêmio da Liberdade e Responsabilidade Científica da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Recomposição integral do FNDCT
A ministra Luciana Santos aproveitou a cerimônia para anunciar a “recomposição integral” do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Os recursos haviam sido limitados em agosto do ano passado, por uma medida provisória editada por Jair Bolsonaro.
O FNDCT, criado em 1969, é um dos principais programas de recursos orçamentários e financeiros para o apoio à infraestrutura científica e tecnológica das instituições públicas, como universidades e institutos de pesquisa, e também para o apoio à inovação tecnológica em empresas com recursos não reembolsáveis.
Este conteúdo foi originalmente publicado em ”Derrotamos a truculência em nosso país”, diz novo presidente do CNPq no site CNN Brasil.