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Entidade defende salinha das emoções em escola: “Famílias satisfeitas”

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

A Associação de Diretores e Ex-Diretores das Escolas Públicas do Distrito Federal (ADEEP-DF) divulgou uma nota de apoio à Escola Classe 3 da Estrutural. A unidade de ensino entrou na mira da Polícia Civil (PCDF) após pais denunciarem que os filhos estariam sendo levados para uma “salinha das emoções” toda vez que se “comportavam mal”. Descrita como escura, com pouca iluminação e pequena, o espaço fica na Escola Classe 3 da Estrutural – que, apesar do nome, é localizada no Guará II.

A ADEEP declarou que a escola é reconhecida por apoiar “a inclusão e a Educação em e para os Direitos Humanos” e que as famílias estão “satisfeitas com o acolhimento a esses estudantes”.

“Possuímos, inclusive, lista de espera para matrículas para 2025 e gestoras reconhecidas pela luta pela inclusão de pessoas com deficiências e Direitos Humanos em seus projetos pessoais”, completa o texto.

A entidade ainda afirma que a “salinha das emoções” foi “legitimada pela Comunidade Escolar que aprovou nas últimas eleições o Plano de Ação dessa Gestão” após “ter sido observado no ano letivo de 2023 que faltava um espaço adequado para o acolhimento das crianças e funcionários”.

“Importante ressaltar que a criança com espectro autista no seu momento de desregulação necessita de um espaço que garanta a integridade física da mesma, que seja silencioso, sem estímulos visuais/auditivos para seu reequilíbrio e devendo voltar para as suas atividades em sala com seus colegas assim que possível”.

Segundo a entidade, a sala possui “revestimento até sua metade com emborrachado para proteção das crianças, luz elétrica, luz que reflete no teto estrelas, janela, ventilador, 3 puffs para deitar e brinquedos para acalmar as crianças/estudantes”.

Denúncias

A entidade trata como “denunciação caluniosa” o relato feito por uma ex-professora e por pais de alunos da EC 3 à PCDF.

“Constitui-se inverdades, denunciação caluniosa e difamação quaisquer informações contrárias as que estejam nessa nota que serão comprovadas eticamente nos meios próprios para essa finalidade”, completa a nota da ADEEP-DF.

A 4ª Delegacia de Polícia (Guará) investiga a tal “salinha das emoções”. Os pais relatam que não foram informados sobre a existência de uma “sala das emoções”. Eles só tomaram conhecimento da existência do ambiente depois que uma professora temporária foi desligada da unidade de ensino. Ao ser demitida, a professora Nazaré Mesquita procurou um advogado para iniciar um processo cível contra o estabelecimento educacional e passou a relatar a situação sofrida pelos estudantes.

A própria professora descreveu a “sala das emoções”. “É inteiramente preta, com janelas vedadas, e luzes características de boate”. Nazaré afirma que, em agosto, a diretoria determinou que as educadoras registrassem caso alguma professora impedisse que as crianças fossem levadas à sala. Em alguns dias, Nazaré foi desligada, sob alegação de não entregar relatórios e negar-se a cumprir as ordens da coordenação, entre outras.

“Com a minha saída, alguns pais se mobilizaram para entender o motivo”, diz a professora. Foi então que a existência da sala veio à tona.

“Meu filho passou a ter medo do escuro”

Paula Holanda, 37 anos, e Yudi de Lima, 38, são pais de um menino de 4 anos. Não autista, ele foi matriculado na EC 3 no início do ano e ficou em uma turma mista.

Ao serem informados do desligamento da professora Nazaré, em 20 de agosto, Paula e Yudi foram até a escola e, segundo eles, a diretoria informou que a docente “não se adequava aos procedimentos” adotados na unidade de ensino. Nesse dia, a vice-diretora do local teria levado o casal para conhecer a “sala das emoções”.

“Eu não sabia da existência dessa sala. Tinha tatames pretos no chão e nas paredes, janelas travadas, um ventilador e uma luz tipo de boate. Dias depois descobri que meu filho já tinha sido levado para essa sala”, conta Paula.

A mãe diz que o próprio menino de apenas 4 anos contou a ela como os colegas eram levadas para o “castigo”. “Ele me falou que vários amigos também já tinham ido para a sala, tanto autistas quanto não autistas. Segundo ele, era para ‘parar de chorar’.”

Yudi corrobora a história e relata que o filho passou a ter medo do escuro. “Até então, não sabíamos o motivo da mudança de comportamento dele, mas, agora, tudo passou a fazer sentido.” O menino, que estava em uma escola pela primeira vez, também passou a ter pesadelos frequentes. “Ele já não vai mais para a escola e vamos pedir a transferência dele. Eu não confio mais para deixar ele ir a essa mesma escola”, completa Yudi.

Retrocesso no tratamento

Outra mãe, que não será identificada, contou em depoimento à PCDF que a filha autista teve um retrocesso no tratamento após ser matriculada na escola.

A mulher corroborou a descrição da “sala das emoções” e disse que conseguiu ver o ambiente um dia quando foi buscar a menina na unidade. Ela também nunca teria sido informada sobre a existência da sala ou qualquer tipo de procedimento para acalmar as crianças.

Uma outra mulher, responsável por um menino autista verbal, relatou às autoridades que também percebeu uma mudança no comportamento dele. A criança já havia estudado em uma creche anteriormente e, segundo a responsável, “nunca teve crises” enquanto estava na creche.

Entretanto, após ser transferido para a Escola Classe 3, a diretoria teria passado a questionar a dosagem da medicação do menino, além de reclamar frequentemente do comportamento dele. Em casa, o menino passou a ser “mais agressivo”. Ao saber da existência da sala, a mulher conversou com o menino. Ele confirmou que teria sido levado para a sala “diversas vezes”.

Os pais ainda acusam a direção da escola de “descaracterizar” a sala após as reclamações e o registro da ocorrência. Eles afirmam que a diretora e a vice abriram as janelas, tiraram metade do tatame e passaram a levar turmas inteiras para o local a fim de “ressignificar” o espaço.

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