A anunciada construção do Hospital Clínico Ortopédico com 160 leitos no Guará de certa forma frustrou a população, que esperava um hospital clínico, de “portas abertas”, em que qualquer morador pudesse ser atendido diretamente, como era o projeto original. O HCO, que será construído ao lado da via contorno do Guará II e em frente às QEs 17 e 19, será um hospital de referência em ortopedia e pediatria e receberá apenas pacientes encaminhados por outras unidades da rede pública.
Mas, nessa entrevista exclusiva ao Jornal do Guará, a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, explica porque o projeto foi mudado, como será o atendimento, e garante que o atual Hospital Regional do Guará seria suficiente para a demanda da população local se não fosse a grande procura por pacientes de fora, principalmente da Estrutural. Esse problema, segundo ela, será resolvido com a construção da UPA lá e outra no Guará. Mesmo assim, Lucilene Florêncio informa que o atual governo pensa em construir um terceiro hospital no Guará, este de clínica geral.
Para a secretária de Saúde, o maior problema do Hospital do Guará não é a falta de profissionais, mas de espaço para crescimento e de modernização das instalações
Por que o governo optou por construir um hospital com especialidade em ortopedia em vez do hospital clínico geral como estava previsto inicialmente?
Porque concluímos que temos uma demanda grande pelo atendimento de cirurgia eletivas de ortopedia no Distrito Federal, ou seja, aquelas que não são de emergência, e que os pacientes muitas vezes ficam internados em hospitais de porta aberta, ocupando leitos que poderiam ser ocupados por quem está necessitando de atendimento de emergência, como vítimas de acidentes automobilísticos, quedas e outras contusões graves que não podem esperar por uma cirurgia. O Hospital Clínico Ortopédico do Guará terá essa referência, principalmente para atender aos moradores da chamada Região Centro-Sul, que vai do Guará, Candangolândia até Samambaia, Ceilândia, Santa Maria etc. O hospital vai ajudar a desafogar os centros de traumas, que estão nos hospitais do Gama, Ceilândia, Taguatinga e o Hospital de Base. Hoje é uma tendência mundial esses hospitais vocacionados, ou seja, que priorizem uma determinada especialidade.
Mas haverá também uma parte para a clínica médica…
Sim, porque há uma demanda na região do Guará e no seu entorno por um hospital de outras emergências que esteja mais próximo. O Guará foi escolhido pela sua localização estratégica e também porque sua população aumentou muito nos últimos anos e não dispõe de um hospital que atenda a essa demanda crescente. Existe essa lacuna na chamada Região Centro-Sul, porque a população mais afastada dispõe de grandes hospitais públicos em Taguatinga, Ceilândia e Santa Maria. O Hospital Clínico e Ortopédico do Guará vai atender preferencialmente essa população, mas não quer dizer que não atenderá quem o procurar, porque somos regidos pelo sistema do SUS e temos que respeitar a universalidade, ou seja, onde quer que eu esteja tenho o direito de ser atendido na rede pública disponível.
O Hospital Clínico Ortopédico então não será um hospital de “portas abertas”, ou seja, que atenda quem o procurar por conta própria…
Exato. Só vai atender pacientes encaminhados por outras unidades de saúde, no caso, outros hospitais que não disponham daquela especialidade, não tenham equipes ou espaço especializado, e depois de feita a triagem do caso clínico do paciente. Os casos, por exemplo, de crises de hipertensão, diabetes, enxaqueca, serão atendidas pelas UPAs. Os moradores dessa região terão disponíveis as UPAs do Guará, que ficará pronta antes da conclusão do hospital, do Riacho Fundo e da Estrutural.
Está havendo uma certa frustração da população guaraense, que esperava a construção de um hospital de “portas abertas”, porque o atual Hospital Regional do Guará está sobrecarregado e não dispõe de profissionais e espaço suficientes, de acordo com os pacientes que o procuram…
Se observamos somente pelo que diz o IBGE e prega a Organização Mundial de Saúde (OMS), o atual hospital do Guará seria suficiente para atender toda a população local. O problema do HRGu não é a falta de profissionais ou de espaço, é a demanda de fora. Trabalhei lá em 2014 e depois retornei em 2020 como coordenadora de Saúde da Região Centro-Sul (atual Superintendência) e verifiquei um considerável aumento da demanda de pacientes com traumas, ferimentos provocados por arma de fogo ou branca, vindos principalmente da Estrutural. Além da proximidade, esses pacientes procuram o Hospital do Guará porque ele dispõe de salas vermelha e amarela e serviço de emergência e boa parte nem é encaminhado pelo Samu ou pelos Bombeiros. Quando for construída a UPA da Estrutural, essa demanda vai cair bastante.
Não há falta de profissionais
Mas a população reclama da falta de profissionais e do tempo de espera pelo atendimento…
Primeiro, não existe carência de profissionais no Hospital Regional do Guará, que dispõe de no mínimo dois médicos plantonistas, enfermeiros e auxiliares de enfermagem suficientes para a demanda, se considerarmos a capacidade do hospital. A carência é de espaço físico, de modernidade, porque é um prédio antigo, adaptado, que comporta apenas 52 leitos. A unidade de pediatria, por exemplo, acabou de ser reformada.
Se o prédio não é adequado, por que o governo mudou o projeto original da construção de um hospital clínico para o hospital ortopédico?
Porque entendemos que a necessidade mais premente era a construção de um hospital de referência em ortopedia, conforme expliquei antes, e já havia o terreno no Guará disponível. Mas, não está descartada a possibilidade da cidade receber um outro hospital geral. Já estamos mantendo contatos com a Novacap e a Terracap para a busca de um terreno no Guará onde possa ser construído esse hospital, mas para depois da construção do HCO e das duas UPAs.
Como a entrega do novo hospital vai demorar quase três anos, há previsão de melhoria das instalações e ampliação do atendimento do atual Hospital Regional do Guará?
No caso específico, não, até porque não há mais espaço físico para ampliações. O que fazemos são interferências pontuais, dentro do que é possível, considerando o que existe. Por isso, estamos atacando a demanda de outra forma, com a ampliação do atendimento do programa Saúde da Família, para evitar que muitos pacientes precisem procurar o hospital por qualquer motivo. Estamos promovendo reforços significativos nas equipes dos programas Enfermagem de Família, Núcleos de Apoio à Família e Agente Comunitário de Saúde. Estamos fortalecendo o Núcleo de Atenção à Família para atendimento aos pacientes que precisam de internação, mas podem ficar internados em casa, como são os casos de portadores de doenças crônicas, idosos, que podem ser acompanhados pelas equipes da estratégia da saúde da família.
O que pode acontecer é que essa quantidade de equipes não seja suficiente ainda para cobrir toda a cidade, mas isso também é questão de tempo, porque estamos investindo na contratação de pessoal para ampliar o atendimento. A outra é a construção da UPA da Estrutural e a do Guará, o que vai reduzir consideravelmente a demanda do Hospital Regional do Guará.
Com a possível construção desse terceiro hospital, o que poderia ser feito das instalações do HRGu?
Existem algumas sugestões e propostas, como, por exemplo, transformá-lo numa grande policlínica, com todas as especialidades e um centro de imagens e laboratório, ou ainda em um hospital geriátrico ou renal, que são duas carências da saúde pública do Distrito Federal.
Os críticos da construção do Hospital Clínico e Ortopédico do Guará citam a possibilidade de termos um grande hospital e não ter pessoal que o faça funcionar, porque há um déficit de recursos humanos na rede pública do DF, incluindo o Hospital Regional do Guará…
A construção de um hospital é um conjunto, uma sucessão de ações que culminam com a entrega da obra física. No caso do Hospital Clínico Ortopédico do Guará, à medida em que a obra for prosseguindo, vamos adquirir o imobiliário e os equipamentos e preparando a contratação das equipes necessárias para o seu funcionamento. Os recursos humanos necessários vão fechar antes da entrega da obra, porque não adianta contratar antes e ficar pagando sem necessidade. Só no cadastro reserva de concursados da Secretaria de Saúde temos cerca de 5 mil profissionais aguardando e eles serão chamados conforme forem surgindo as necessidades e à medida que as unidades novas forem sendo entregues. Se esse cadastro zerar e se faltarem profissionais para algumas especialidades, vamos promover novos concursos com prazo suficiente para serviram às novas unidades. Portando, não há risco do Hospital Clínico Ortopédico não começar atendendo plenamente por falta de pessoal.
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