Nos últimos seis anos, 821 profissionais de segurança pública brasileiros ativos faleceram por mortes autoprovocadas. Cerca de 57% (470) dos suicídios são apenas de policiais militares que ainda trabalhavam diretamente nas corporações. Os dados constam no Boletim IPPES 2024, divulgado nesta quinta-feira (26/9), e consideram informações oficiais registradas entre 2018 e 2023.
O documento é resultado de um esforço conjunto do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES) e do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ).
O estudo faz uma divisão dos dados oficiais, obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), e os dados extraoficiais.
Dados oficiais
O boletim faz uma divisão entre os casos de suicídios simples e aqueles que ocorreram após homicídios e feminicídios. Além disso, há uma separação por profissionais de segurança pública que estavam ou não na ativa no momento em que faleceram por mortes autoprovocadas.
Os dados de profissionais da ativa podem ser visualizados no quadro a seguir:
No mesmo período, morreram pelo menos 226 profissionais que já haviam passado para a inatividade. Entretanto, segundo a pesquisa, muitas corporações não possuem dados dos seus profissionais após a aposentadoria, o que indica que estes dados sejam ainda mais subnotificados do que o número entre os profissionais ativos.
Há ainda uma divisão por casos ocorridos em cada unidade da Federação. No caso dos policiais militares da ativa, durante os últimos seis anos, os locais com mais mortes autoprovocadas foram: São Paulo (127); Bahia (35) e Rio de Janeiro (34). O Distrito Federal registrou 16 ocorrências do tipo.
Os dados da capital federal ainda revelam, entre 2018 e 2023, a morte de 11 PMs inativos e de 5 policiais civis inativos em casos de suicídios após homicídios.
“Em relação aos números, chama nossa atenção o aumento de casos nas polícias militares, que apareceu nos dois conjuntos de fontes de dados. Destacamos especialmente os aumentos observados nos estados do Pará, Rio de Janeiro e São Paulo”, aponta o estudo.
Fontes extraoficiais
Desde 2017, o IPPES mapeou e categorizou 658 mortes por meio de fontes extraoficiais. Foram 500 mortes por suicídio, 88 por suicídio que estiveram associadas também a pelo menos um homicídio e 70 mortes suspeitas, que estavam sob investigação ou incluídas na categoria “outros”. Houve ainda 116 tentativas de suicídio, número que provavelmente seja consideravelmente subnotificado.
Em 2023, a partir das fontes extraoficiais do IPPES, foram coletados 124 casos: 89 foram categorizados como suicídios consumados, sete tentativas de suicídio, 14 homicídios ou feminicídios seguidos de suicídio e 14 classificados como outros.
“Ao fazermos um comparativo com a coleta de dados do ano anterior, observamos um ligeiro aumento no total de casos coletados. Ao mesmo tempo, encontramos diminuição de dois casos de suicídio e três de homicídios/feminicídios seguidos de suicídio. Praticamente, não houve mudança na distribuição dos casos, a maior diferença foi observada na categoria outros, com um aumento de dois (2022) para seis casos (2023)”, indica o documento.
Assim como em anos anteriores, a arma de fogo continua sendo o principal meio utilizado nas mortes, responsável por 54% dos casos. Nas situações de suicídios simples, a idade média dos profissionais de segurança pública ativos era de 39 anos. Para os inativos, o dado é de 58 anos.
“Novamente, em relação à disponibilidade de profissionais de saúde, encontramos grandes disparidades no efetivo desses profissionais a depender da instituição e da unidade federativa. Identificamos ainda o que já vinha sendo apontado em nossas pesquisas anteriores que é a carência de profissionais médicos psiquiatras”, classifica o documento.