Com a seca no Distrito Federal cada vez mais perto do fim, brasilienses estão ansiosos para a chegada da chuva. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital federal pode registrar pancadas isoladas no sábado (28/9) e no domingo (29/9). Mas, uma preocupação também pode tomar conta: será que as primeiras precipitações depois de um longo período de estiagem podem fazer mal devido à acidez? Um especialista esclareceu a situação ao Metrópoles.
Na verdade, segundo André Souza, coordenador de enfrentamento das mudanças climáticas da Secretaria de Meio Ambiente do DF (Sema-DF), toda chuva é ácida. O que dita a acidez de algo é o pH, que, quando está abaixo de seis, é considerado ácido.
“O pH da chuva fica ali pelos 5,65. Naturalmente, a chuva já é ácida. Então, assim, falar em chuva ácida, é pra assustar. Porque a gente pega chuva e nem por isso a gente se desfaz.”
Para acontecer num nível perigoso, o especialista explica que a chuva precisa acontecer onde há queimadas — especificamente onde o fogo está. “Os gases vão sendo dispensados pela atmosfera, então não tem como ser muito ácido a não ser que aconteça em regiões de queimadas”.
André ainda lembra que o nível de acidez pode ser elevado em locais de grande concentração industrial ou minas de carvão. No DF, segundo ele, as indústrias possuem filtros para esse tipo de emissão.
“A questão de chuva ácida é exatamente só essa. Não tem como a gente ter chuva ácida num nível perigoso aqui em Brasília. Se acontecer, é lá onde está pegando fogo, e na hora. Tem que ser fumaça subindo e chuva caindo. A chuva não vai percorrer toda Brasília”, esclarece.
Chuva preta
No início de setembro, a “chuva preta” surpreendeu moradores do Rio Grande do Sul e ainda deixou em alerta os residentes de São Paulo. O fenômeno, marcado pela coloração escura das gotas, também pode despertar preocupação na capital federal, que foi atingida por diversos incêndios nas últimas semanas.
A chuva preta acontece quando partículas de fumaça das queimadas se misturam com a umidade do ar, formando nuvens carregadas de poluentes. Com o transporte de fumaça pelos ventos, a concentração de partículas no ar aumenta, o que gera condições ideais para a formação desse tipo de precipitação.
“Choveu preto porque muita área foi queimada. E como a gente tem as correntes de vento que vêm da Amazônia varrendo todo o resto do Brasil, então, naturalmente, aquela foligem foi transportada, serviu como núcleo de condensação e caiu. Era fuligem e ficou preto”, explica André.
O fenômeno é mais comum durante períodos de queimadas intensas, especialmente em dias secos e com alta concentração de poluentes na atmosfera. Quando a chuva cai, ela carrega partículas de fuligem, poeira e outras substâncias tóxicas, o que tinge as gotas de um tom escuro, por vezes quase preto.
“Mas não estamos com isso passando por Brasília agora. Isso passa mais pelo Mato Grosso. E esse ar que passou pelo Mato Grosso que levou essa foligem toda lá para o Rio Grande do Sul. Se ele tivesse passado por aqui, aí teria caído aqui. Mas como a gente também não estava com potencial de chuva, essa folia passou direto.”
Próximas secas e chuvas
André ainda comentou que, o esperado, é que as próximas secas no DF sejam cada vez mais longas e os períodos de chuvas, consequentemente, menores. Além disso, as chuvas devem ser cada vez mais intensas.
“Independentemente do que a gente faça, vai chover menos. Porque para chover no DF, nós precisamos que exista a Amazônia. A tendência é que nosso período de estiagem se prolongue, a chuva diminua e que durante a época das chuvas aconteçam mais chuvas intensas. E para isso, a gente não está preparado, mas estamos no processo para se preparar”.