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Área queimada no DF em setembro já é 24% maior do que a registrada entre janeiro e agosto

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

 

Incêndio no Parque Nacional de Brasília deixou a capital coberta de fumaça e queimou duas vezes mais do que no restante do ano.

 

A série de incêndios que atingiu Brasília nas primeiras semanas de setembro queimou 10 mil hectares do Distrito Federal. A partir de dados preliminares, em apenas 18 dias, a área queimada foi 24% maior do que tudo que havia queimado nos outros 8 meses de 2024, cerca de 8 mil hectares. No Parque Nacional de Brasília, maior Unidade de Conservação da capital, um incêndio iniciado no dia 15 atingiu mais de 1.338 hectares de vegetação nativa a menos de 10 quilômetros do Congresso Nacional – quase o dobro do que havia queimado no parque entre janeiro e agosto.
Entre janeiro e agosto de 2024, mais de 8 mil hectares de Cerrado já haviam sido queimados no Distrito Federal, segundo dados do Monitor do Fogo, onde o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) coordena o mapeamento do Cerrado. Quando somados os 10 mil hectares queimados nos primeiros 18 dias de setembro, a área afetada pelo fogo no Distrito Federal já é 319% maior do que a queimada de janeiro a final de setembro em 2023, quando as chamas atingiram 4,3 mil hectares.

Focos de calor e área queimada no Distrito Federal registrados entre 01/09 e 18/09
“A crise climática e o impacto humano estão, de fato, colaborando significativamente para a gravidade e extensão das queimadas no Cerrado, como as observadas recentemente no Distrito Federal. As mudanças climáticas intensificam as secas e elevam as temperaturas, criando condições propícias para incêndios maiores. Além disso, o uso inadequado do fogo em atividades agrícolas e o desmatamento aumentam a frequência e a gravidade das queimadas. O Cerrado, que naturalmente lida com o fogo, agora enfrenta incêndios muito mais intensos, prejudicando a recuperação da vegetação e a biodiversidade”, alerta Vera Arruda, pesquisadora do IPAM e coordenadora do Monitor do Fogo.

Apesar de já serem esperados para o período de seca no Cerrado – que chega a seu ápice nos meses de agosto e setembro – 2024 tem batido recordes de área queimada. Na comparação com os últimos cinco anos, a área queimada no Cerrado em todo o Brasil foi 95% maior em agosto de 2024 do que a média para o período. No DF, foram queimados 3,8 mil hectares queimados em agosto, 190% a mais do que no mesmo período em 2023.

Além do Parque Nacional, outras áreas de vegetação nativa foram atingidas pelo fogo. Segundo dados do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), a Floresta Nacional de Brasília teve 40% da sua área queimada em um incêndio apontado como “criminoso” pela Delegacia de Repressão a Crimes Ambientais da Superintendência da Polícia Federal no DF.

 

Cerrado é o bioma que mais queimou

 

Apesar dos números recentes, queimadas e incêndios no Cerrado estão longe de serem novidades no bioma. Segundo dados da última Coleção do MapBiomas Fogo, coordenada por pesquisadores do IPAM, o bioma foi o que mais queimou nos últimos 39 anos. Ao todo, foram 88 milhões de hectares atingidos pelas chamas entre 1985 e 2023, uma média de 9,5 milhões de hectares por ano.
Embora possua tipos de vegetação que evoluíram para lidar com queimadas, o regime natural do fogo tem sido alterado pelas secas frequentes e temperaturas extremas. O uso indiscriminado do fogo também está relacionado ao aumento dos incêndios, colocando em risco a biodiversidade local e a integridade dos ecossistemas naturais.
“O fogo atual no Cerrado é muito mais agressivo que o fogo natural, ocorrendo com maior intensidade e frequência devido à ação humana. Diferente das queimadas naturais, que eram esparsas e permitiam a regeneração da vegetação, os incêndios de hoje não dão tempo para a recuperação da fauna e flora. Esse desequilíbrio pode levar à morte de espécies da fauna, que perdem seus habitats e não conseguem fugir das chamas intensas, além de afetar espécies vegetais que não suportam a intensidade dos incêndios recorrentes”, destaca Vera Arruda.
O uso indiscriminado do fogo como ferramenta de limpeza do solo em áreas de produção agropecuária também tem trazido problemas para a vegetação nativa e a qualidade do ar. Em agosto, um levantamento do IPAM revelou que dos 2,6 mil focos de calor registrados no estado de São Paulo entre os dias 22 e 24 de agosto, 81,29% se concentraram em áreas de uso agropecuário (como as ocupadas pela cana de açúcar e pela pastagem) e surgiram em um espaço de 90 minutos.

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