Alvo das operações Sinal de Fumaça, em Uberaba (MG), e Nicotina Falsa, no Distrito Federal, um quadrilha especializada no contrabando e na falsificação de cigarros ironizava as abordagens das autoridades e dizia que “aprendiam cada vez mais” a cada flagrante com fiscais e policiais.
A ação, deflagrada na manhã desta quarta-feira (9/10) pela Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal e o Ministério do Trabalho e Emprego, reúne mais de 150 policiais federais no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Pernambuco.
São cumpridos dois mandados de prisão, 39 de busca e apreensão, além do bloqueio e sequestro de bens dos suspeitos, expedidos pela 2ª Vara de Garantias de Goiânia e pela Justiça Federal em Uberaba (MG).
As investigações tiveram início a partir de denúncias que informavam a venda de cigarros falsificados ou contrabandeados nos municípios de Valparaíso de Goiás, no Entorno do DF, e de Uberaba (MG).
Segundo a PF, os suspeitos mantinham uma fábrica onde trabalhadores paraguaios seriam explorados em condições análogas à escravidão para a produção dos cigarros falsificados.
O inquérito policial indica que os investigados teriam começado o trabalho com venda de cigarros legítimos, mas começaram a querer lucros maiores e passaram a vender cigarros de uma fábrica clandestina, provavelmente localizada em Minas Gerais.
Durante as investigações, a PF conseguiu amostras dos cigarros e fumos vendidos. Laudos periciais e consulta aos supostos fabricantes teriam confirmado as suspeitas.
Apesar da aparência simples das distribuidoras suspeitas localizadas em Valparaíso de Goiás e em Uberaba, análises de relatórios de inteligência financeira (RIFs) recebidos pela PF indicaram a movimentação de R$ 1.473.870.264,00 pelo esquema. Para conseguir movimentar a carga pelas rodovias do Brasil, o grupo falsificava documentos e notas fiscais para burlar as fiscalizações.
Os investigados podem responder por crimes relacionados à falsificação dos cigarros, dos documentos tributários, comércio de produtos impróprios para consumo, trabalho escravo e lavagem de dinheiro. As penas podem ultrapassar os 48 anos de prisão.
Rota da fumaça
Em agosto deste ano, a coluna Na Mira revelou, na reportagem especial Rota da Fumaça, que não existe barreira para impedir organizações criminosas especializadas no contrabando de cigarros de despejarem toneladas de fumo de baixa qualidade no Brasil, o que coloca em mais risco a saúde de quem consome esses produtos.
O Metrópoles foi ao Suriname, a Belém (PA) e a Minas Gerais para acompanhar a Rota do Fumo. A investigação também revelou a rotina escravagista imposta por fábricas clandestinas e como é o processo de falsificação dos cigarros.