A combinação entre a maior estiagem da história de Brasília, a omissão da fiscalização e de gerência por parte dos órgãos ambientais, combinadas com a irresponsabilidade de um catador, provocaram a destruição de uma área equivalente a 1/5 do Parque Ezechias Heringer, o Parque do Guará, no final da semana passada, a poucos dias do início do período chuvoso. As chamas e a fumaça assustaram moradores e deram muito trabalho para as equipes do Corpo de Bombeiros.
Este foi o maior incêndio no Ezechias Heringer em volume, embora o prejuízo para a flora não tenha sido tão significativo como os anteriores, porque o fogo consumiu principalmente a mata que não era nativa, de espécies chamadas de “exóticas invasoras”, formada após a desativação das lagoas de oxidação em 1994. Por ser mais fechada e volumosa, esse tipo de mata facilita a combustão e a propagação do fogo, o que, no caso do incêndio do parque, tomou proporções maiores, porque as chamas e a fumaça eram vistas a grandes distâncias.
O incêndio na Área 27 reforça a necessidade de ampliar o controle sobre essa parte do parque, que é separada fisicamente da Área 28 pela via EPGu (Guará – Zoológico), o que dificulta a fiscalização e facilita a ocupação por invasores, como aconteceu com o responsável por atear fogo em um monte de folhas secas com a intenção de limpar a área em volta de seu barraco erguido dentro do parque. O próprio Instituto Brasília Ambiental (Ibram), responsável pela gerência dos parques do DF, anunciou um projeto que prevê a recuperação do cercamento e abertura de um outro acesso ao parque, para atender aos moradores das QEs 38, 42, 44, 46, as quadras novas (QEs 48 a 58) e a futura QE 60 com espaços recreativos, além de proteger o que resta da flora. Na entrevista ao Jornal do Guará da primeira semana de setembro, o presidente do órgão, Roney Nemer, explicou que o projeto prevê a instalação de equipamentos de ginástica, quadras poliesportivas, parque infantil e de uma trilha semelhante à que existe na outra parte em frente à QE 19.
Novo acesso para proteger a Área 27
O acesso e a implantação da parte recreativa na Área 27 faz parte de um pacote de investimentos em todo o parque Ezechias Heringer, que inclui a recuperação do mirante, a recuperação e ampliação do orquidário e a abertura de uma trilha por toda a área. De acordo com o presidente do Ibram, a nova guarita vai servir de vigilância para ajudar na preservação da vegetação e da cerca, e de acesso a quem quiser utilizar aquela parte do parque. Roney Nemer diz que a implantação do prometido Museu Ezechias Heringer, para exposição e preservação de espécies da flora nativa do parque, depende apenas da conclusão dos projetos, o que deve acontecer até o final do ano. “Vamos também ampliar e reabrir o orquidário, para mostrar as mais de 100 espécies de orquídeas da reserva”, completa Roney Nemer. Outra promessa do gestor é a abertura de uma trilha mais longa – existem duas curtas, uma de asfalto e outra de terra – para que os usuários possam desfrutar de toda a extensão do parque Ezechias Heringer, uma reivindicação antiga de grupos de trilheiros do DF. Parte dessa trilha fará a ligação entre o lado do Guará e o do ParkShopping, para ser usada por ciclistas e pedestres.
Incêndio mobilizou mais de 100 bombeiros
Mais de 100 militares do Corpo de Bombeiros do DF (CBMDF) trabalharam no combate às chamas que atingiram o Parque Ezechias Heringer no final da semana passada. A maior dificuldade do combate é que surgiam novos focos quando aparentemente o incêndio estava controlado.
Um catador, de 73 anos, foi preso e confessou que teria ateado fogo em monte de folhas secas para limpar os arredores do seu barraco e depois não conseguiu mais controlar as chamas, que se espalharam rapidamente. Protegidos pela vegetação fechada, essa parte do Parque, abaixo da QE 36 e do 4º Batalhão da Polícia Militar, abriga pessoas que trabalham com materiais recicláveis, pneu, plástico e papelão, materiais altamente inflamáveis.
Antes deste último incêndio, do final de semana, a quantidade de incêndios no parque tinha reduzido este ano em relação aos anos anteriores, por causa, segundo Roney Nemer, do reforço da equipe de brigadistas, da ronda motorizada e da aquisição de novos equipamentos, como abafadores. “O parque ainda continua sofrendo com os incêndios, parte deles pela combustão espontânea do cerrado quando a vegetação fica muito seca, mas, principalmente, pelos criminosos que ateiam fogo, de forma deliberada ou não, na vegetação”.
O presidente do Ibram explica que a contratação de novos brigadistas não será suficiente para acabar com os incêndios no parque. “Eles fazem uma espécie de primeiros socorros, na tentativa de estancar o fogo antes que propague, mas o combate mesmo é feito pelo Corpo de Bombeiros”, explica. Ele pede que a comunidade ajude na fiscalização e denuncie qualquer suspeita de incêndio criminoso na área.
Em relação ao Plano de Manejo (Plano diretor) do Parque Ezechias Heringer, Nemer informa que o Ibram está promovendo a alteração do projeto, que foi elaborado ainda no Governo Rollemberg. O plano de manejo prevê a ocupação da área recreativa do parque com equipamentos esportivos e de lazer, semelhantes ao que existem no Parque da Cidade. Entretanto, Roney prefere não estipular prazo para a conclusão dos estudos e a implantação do plano.
O que é Parque Ezechias Heringer
São 349 hectares, a maior parte ainda pouco conhecida e usada pelos moradores. Entre as atrações da área de lazer, em frente à QE 19, há um parque infantil, um ponto de encontro comunitário (pec), banheiros públicos, uma quadra de areia e duas trilhas (uma de piso asfáltico e outra de terra).
O parque é formado por um cerrado típico e é banhado pelo Córrego Guará. Tem centenas de espécies de plantas entre árvores, arbustos, flores, trepadeiras, além de cerca de 100 espécies de orquídeas catalogadas, nascentes e é dotado de grande biodiversidade, incluindo pequenos mamíferos, algumas espécies de répteis, pequenos roedores e diversos tipos de pássaros. Seu nome foi uma homenagem ao agrônomo pioneiro no estudo do cerrado, Ezechias Heringer, que identificou diversas espécies de orquídeas em todo o território do Distrito Federal.
O post E LÁ SE VAI MAIS UMA PARTE DO PARQUE apareceu primeiro em Jornal do Guará.