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Pesquisa na Cracolândia traz denúncias de espancamento pela Guarda Civil de São Paulo

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

“Eles quebraram minha costela e furou meu pulmão. E eu tive que ficar sete dias internado, com drenagem, para tirar o ar do pulmão, senão eu ia morrer. Eu não fiz nada, moço. Nem mexo com esses caras, tá ligado? Nem mexo com eles”, contou um homem, de 55 anos, a um grupo de pesquisadores que ouviram a experiência dos frequentadores da Cracolândia, como é chamada a região no centro da cidade de São Paulo que reúne pessoas em situação de rua, dependentes químicos e vendedores de drogas. 

O episódio mencionado envolveria guardas da Inspetoria de Operações Especiais (IOPE) – grupo de elite da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo (GCM). Dentre os apontados como responsáveis por atos de violência contra os frequentadores da região, o grupo é o que foi denunciado mais vezes. A Agência Pública questionou a CGM, através da assessoria da Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU), que respondeu que irá apurar as denúncias para responder à reportagem.

A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira, 25 de outubro, ouviu 90 frequentadores em diferentes pontos da Cracolândia, entre os dias 15 de julho e 15 de agosto de 2022.  Ela foi realizada por pesquisadores do Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV), pelo Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP) e pelo Grupo de Estudos (in)disciplinares do corpo e do território (Cóccix). O estudo foi divulgado pela Agência Bori.

Mais de 60% das pessoas ouvidas disseram que foram vítimas de ações violentas das forças de segurança municipais ou estaduais semanas antes do início das entrevistas.  

“Tem um rapaz aí que só anda assim, torto, que nós ‘botamos’ o vulgo [apelido] dele de pescoço. Ele tomou duas ‘canadas’ [golpes] de cacetete no pescoço e não voltou mais ao normal”, contou um dos entrevistados aos pesquisadores sobre um dos episódios de violência que teriam sido praticados por guardas da IOPE.

Maioria dos entrevistados disse ter sido vítima de ações violentas das forças de segurançaMaioria dos entrevistados disse ter sido vítima de ações violentas das forças de segurançaMaioria dos entrevistados disse ter sido vítima de ações violentas das forças de segurançaMaioria dos entrevistados disse ter sido vítima de ações violentas das forças de segurançaMaioria dos entrevistados disse ter sido vítima de ações violentas das forças de segurançaMaioria dos entrevistados disse ter sido vítima de ações violentas das forças de segurança

De acordo com o estudo, as ações truculentas das forças de segurança são justificadas como estopim para que as pessoas que vivem na Cracolândia reajam de forma violenta. 

“Tem uns que são educados, até falam pra gente sair e tudo, mas os IOPE não, eles são tão folgados que eles já chegam esculachando, xingando a gente, batendo com cassetete. E não é assim, quando ele aborda alguém pra fazer revista, ele chega dando o chute, apertando as partes íntimas que a pessoa chora de dor. Isso não é [atitude] de polícia”, contou um dos entrevistados pela pesquisa sobre as abordagens presenciadas e vividas por ele. 

Os entrevistados pela pesquisa são maioria de homens e mulheres negros, que representam 81% do total, seguidos por brancos, com 17%. Indígenas e amarelos empataram com 1 % dos perfis. 

Homens e mulheres cisgêneros – que se identificam com o sexo biológico atribuído ao nascer – são 81% e 14%, respectivamente. Mulheres e homens trans são 3% e 1%. 

Mudança da sede do governo estadual teria aumentado operações policiais

Segundo o pesquisador Giordano Magri, porta-voz da pesquisa, as ações policiais teriam se tornado ainda mais frequentes após o comunicado oficial de que a sede do governo estadual de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes, vai ser transferida para os Campos Elíseos, bairro onde está situada a Cracolândia.

“A GCM é a força de segurança mais presente, mas desde o ano passado, a gente tem uma intensificação da presença da Polícia Militar (PM) também, de outras forças de segurança estaduais e de estratégias mais amplas do poder público, sobretudo voltadas à especulação imobiliária, à limpeza da região […] e que têm gerado ainda mais instabilidade, abordagens e esses episódios de violência”, disse. 

O projeto, que será administrado pelo escritório de arquitetura e urbanismo Ópera Quatro, prevê um gasto de R$ 4 bilhões para o novo prédio do governo estadual e as secretarias de estado. A obra deve transferir o terminal de ônibus Princesa Isabel e 230 imóveis devem ser desocupados. 

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