Cerca de 60 moradores do Edifício Pérola, localizado na Rua 3 de Vicente Pires, vivem dias de angústia sem poder usar regularmente um serviço básico: energia elétrica. Conforme noticiou o Metrópoles, a Neoenergia Distribuição Brasília cortou a luz do prédio na última sexta-feira (11/4) alegando haver ligação clandestina — o chamado “gato” — no local.
Entenda o caso
- Na sexta-feira (11/4), pela manhã, técnicos da Neoenergia foram ao Edifício Pérola para cortar o fornecimento de energia, pegando alguns moradores de surpresa;
- A distribuidora de energia elétrica informa que enviou um comunicado ao prédio dois dias antes, em 9 de abril. Os residentes apontam para o curto prazo entre o aviso e a suspensão do serviço;
- A companhia alega que interrompeu o fornecimento porque havia uma ligação clandestina alimentando o edifício;
- Já os moradores rebatem afirmando que, em meados de 2023, quando já havia ocupantes no residencial, existia um medidor de energia da Neoenergia (relógio) no local, o que indicaria regularidade;
- O relógio foi furtado em dezembro de 2023, e a síndica registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) dias após o crime. Apesar do furto, a energia seguiu sendo fornecida, de acordo com os moradores, até a última semana. O Edifício alega, inclusive, que recebe até hoje uma conta mensal da Neoenergia (veja imagem abaixo) para pagamento de uma tarifa simbólica;
- Desde o registro do boletim, no entanto, a empresa não instalou outro medidor. Apesar disso, como a energia seguia sendo fornecida, os moradores continuaram usando o serviço normalmente;
- Na última segunda-feira (14/4), o Tribunal de Justiça do DF (TJDFT), por meio da 3ª Vara Cível de Águas Claras, ordenou que a Neoenergia restabeleça o serviço. A companhia, no entanto, se apega a uma liminar da Vara do Meio Ambiente de junho de 2023 que proíbe a empresa a fornecer energia elétrica em prédios residenciais com mais de três andares;
- A Neoenergia também rebate os moradores ao afirmar que nunca forneceu energia ao Edifício Pérola, contrariando a população que fala que já houve um medidor da companhia instalado no prédio em junho de 2023. “O prédio solicitou a medição de energia em setembro de 2023. A liminar da Vara de Meio Ambiente é de junho do mesmo ano. Sendo assim, quando eles pediram a ligação da energia do prédio, a liminar já estava vigente e o pedido foi negado”, diz.
E agora?
Dadas as versões de ambos os lados e o imbróglio na Justiça, o fato é que cerca de 60 famílias seguem sem energia adequada. Após o corte na última sexta-feira (11/4), um morador providenciou um gerador que está instalado no prédio desde então. Apesar da boa ação, o equipamento não atende os residentes da maneira ideal.
O agente de aeroporto Fernando Rodrigues, 30, por exemplo, segue sendo diretamente prejudicado. Isso porque o gerador fica desligado entre 23h e 6h, e Fernando acorda para trabalhar às 23h40.
“Eu trabalho em horário contrário. Às 23h, o gerador é desligado, mas eu acordo 23h40 para ir trabalhar. Desde a última sexta-feira eu tomo banho gelado para ir trabalhar e não tenho luz em casa para me organizar”, lamenta o rapaz.
“É um transtorno gigantesco. Na sexta-feira, por exemplo, eu cheguei em casa com visita e tivemos que subir seis andares de escada porque o gerador já estava desligado”, relembra, inconformado. “Pagamos aluguel caro para vivermos em um ambiente insalubre. Perdi refeições, corro risco dos eletrodomésticos queimarem porque a energia oscila… está muito difícil.”
O sentimento do empresário Gustavo Aguiar, 23 anos, é de que foi “ludibriado pelo condomínio”. “Quando eu me mudei há um ano, me informaram apenas sobre o ‘rateio’ — valor fixo referente à energia que é pago diretamente aos donos do edifício. Nunca imaginei essa situação, fomos todos pegos de surpresa”, confessa.
“Graças a Deus eu tenho pra onde ir, como casas de parentes, mas tem muita gente que não tem essa condição. Aqui moram idosos, tem um senhora de 101 nos no prédio; tem uma moradora grávida que deu à luz ontem”, cita. “Está todo mundo sem rumo, sendo que ninguém tem culpa de nada.”
Já a motorista Nildeneire Siqueira, 48, vê apenas a Neoenergia como responsável pelo transtorno. “Acredito que todos os moradores já tenham entendido o que está acontecendo. Agora com é a Justiça e principalmente com a Neoenergia, para que venham religar o que eles suspenderam, trazendo grandes prejuízos ao prédio”, analisa a moradora.
“A minha expectativa é de a Neoenergia religar a energia. Se já houve uma liminar, só falta eles religarem.”
A aposentada Vani Ribeiro, 59, é proprietária de um apartamento no edifício há cerca de 10 meses e nunca havia tido problemas quanto à energia elétrica. “A gente tem o ‘rateio’ certinho. Agora, estamos à espera da Neoenergia”, comenta.
O que diz a empresa
Para além do posicionamento já mencionado da Neoenergia, a companhia afirma que a liminar judicial pede que a companhia “refaça a ligação clandestina, da forma como estava”. “O que a Neoenergia sinaliza judicialmente é que a ligação só pode ser feita dentro dos padrões de segurança e regulatórios, com a individualização dos medidores. Porém, a liminar da Vara de Meio Ambiente impede esse tipo de ligação em prédios acima de 3 andares, em Vicente Pires, desde junho de 2023”, posiciona-se a pasta.