A invasão ao gabinete de Sandra Faraj ocorreu em 8 de outubro do ano passado, um sábado: flagrante
Ex-chefe de gabinete da distrital Sandra Faraj (SD), Manoel Carneiro de Mendonça entrou ilegalmente na sala da parlamentar, na Câmara Legislativa, em meados de outubro do ano passado. Como revelam filmagens do circuito interno da Casa, às quais o Correio teve acesso, ele deixou o escritório com documentos em mãos. Cinco meses após o episódio, Manoel aparece como testemunha principal na denúncia do sócio da Agência de Comunicação e Tecnologia Netpub e ex-comissionado da deputada Filipe Nogueira Coimbra. O empresário a acusa de embolsar R$ 150 mil em verba indenizatória, valor que deveria ser repassado à empresa pela prestação de serviços de publicidade ao longo de um ano.
O episódio ocorreu em um sábado, 8 de outubro de 2016. À época, Carneiro estava afastado do Legislativo local desde 3 de outubro sem quaisquer justificativas. No vídeo, o ex-funcionário de Faraj, de bermuda e camiseta, tenta abrir a porta do gabinete com a chave usual — a fechadura, entretanto, havia sido trocada. Sem sucesso, deixa o local e volta, minutos depois, com um chaveiro, sem a autorização da Coordenação da Polícia Legislativa. Momentos após invadir a sala, com a ajuda do profissional e de uma lanterna do celular, ele sai com documentos em mãos.
A partir desta data, Carneiro emendou dois atestados médicos — um de 19 de outubro a 2 de dezembro de 2016, e outro de 3 de dezembro do ano passado a 12 de fevereiro de 2017. Após sucessivas ligações sem retorno, Faraj o exonerou, em 3 de janeiro deste ano, antes mesmo do fim da licença médica. Fontes do Correio disseram que a tensão entre o ex-chefe de gabinete e a parlamentar havia chegado ao ápice em 20 de outubro, quando o Diário Oficial do DF apresentou a exoneração do então secretário adjunto de Justiça e Cidadania, José Carlos Carneiro de Mendonça Filho Neto, filho de Manoel Carneiro. Procurada pela reportagem, a distrital preferiu não se pronunciar, porque “aguarda a finalização da investigação conduzida pela Polícia Legislativa”.
Carneiro coleciona histórias inusitadas no meio político. Em 2012, o, à época, administrador de Águas Claras gastou R$ 1 milhão dos cofres públicos com a confecção de 250 mil gibis e CDs infantis — o montante, a princípio, deveria ser investido na infraestrutura da cidade. O episódio levou à queda dele. Desavenças também são usuais: o ex-chefe de gabinete de Sandra Faraj brigou seriamente com os colegas e ex-deputados Eurides Brito e Olair Francisco.
Denúncia
A filmagem integra o conjunto de provas analisadas pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) em relação à denúncia contra a distrital. O órgão iniciou a investigação dias após a veiculação das denúncias de Filipe Coimbra. De acordo com o sócio da Netpub, Sandra Faraj repassou à empresa o equivalente a apenas 10 boletos no valor de R$ 2.655, ou seja, R$ 26.550, e embolsou o restante do valor estabelecido em contrato — um total de R$ 174 mil.
No último dia 13, o Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) determinou que a deputada quitasse o débito em três dias. A parlamentar, porém, interpôs embargos à execução, sob a justificativa de que os valores foram pagos em espécie, com o dinheiro que mantinha em casa, conforme declaração disponível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o fechamento desta edição, a juíza responsável pelo processo, Luciana Correa Torres de Oliveira, não havia emitido decisão sobre o recurso.
Fora da Corte, Faraj tem outro embate: a Mesa Diretora da Câmara Legislativa analisará, na próxima segunda-feira, se arquiva ou se dá andamento ao processo por quebra de decoro parlamentar contrário a ela, redigido pela ONG Adote um Distrital, do Instituto de Fiscalização e Controle (IFC). Caso a representação seja levada a diante, a distrital corre o risco de perder o mandato.
corrio Brasiliense