Após mais de uma década, o julgamento dos acusados pela morte do cabo da Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) Luciano Alves Rabelo terá início. O júri está designado para começar às 8h do dia 30 de abril. O militar foi morto em setembro de 2012 após ser atropleado por um carro em alta velocidade que disputava um racha na GO-346, no Entorno do Distrito Federal.
A decisão pelo júri popular só foi conquistada em 2023, em pedido feito ao Tribunal de Justiça do Estado do Goiás (TJGO). A defesa dos acusados, no entanto, recorreu e anulou a decisão em 2ª Instância. A decisão, por fim, foi restaurada após apelação apresentada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Agora, mais de uma década depois – após anos de brigas na Justiça para que a morte do PM não fosse julgada apenas como uma morte acidental de trânsito – o caso pode finalmente ter o desfecho esperado pela família, no júri popular.
Morte de PM
Luciano Alves morreu aos 35 anos e deixou uma esposa, dois filhos – um menino e uma menina, à época com 7 e 2 anos, respectivamente. A família vivia no município de Formosa, em Goiás.
A viúva Elaine Freitas Silva, 46, lembra que o militar, que dividia a farda com a faculdade de direito, era um bom pai e marido, uma pessoa alegre, querido por todos na cidade e um policial militar de bom coração.
“Todo mundo gostava dele. Ele era um ótimo ser humano e não sabia tratar mal as pessoas. E ele tinha muitos sonhos de um futuro. E tudo isso foi tirado da gente. Minha filha passou um ano inteiro olhando para a janela e esperando ele voltar. Ela chorava toda vez que ouvia a sirene de uma viatura”, lamenta Elaine.
Atropelamento em racha
Segundo o processo, era por volta das 18h do dia 29 de setembro de 2012 quando dois homens saíam de uma carreata de um então candidato a prefeito para Cabeceiras (GO) e decidiram seguir em seus carros para o povoado de Lagoa (GO).
Por volta do mesmo horário, uma viatura do Grupo de Patrulhamento Tático do 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de Goiás (GPT/PMGO) se deslocou de Formosa (GO) para Cabeceiras, para dar apoio ao policiamento do município em razão dos eventos políticos que aconteciam na data.
Informados de um grande fluxo de pessoas se dirigindo para o povoado de Lagoa, os policiais se foram ao km 42 da rodovia GO 346, onde encontraram um veículo suspeito parado às margens da via. Os militares estacionaram a viatura no sentido contrário e o cabo Luciano Alves Rabelo, 35, saiu do veículo tático para dar início ao procedimento da abordagem.
Durante a travessia da pista, Luciano foi atropelado pelo Volkswagen Parati conduzida em alta velocidade, que arremessou a vítima a 100 metros de distância. Um Volkswagen Golf, também em alta velocidade, veio logo atrás. Ambos os motoristas seguiram viagem sem parar ou prestar socorro.
O condutor que atropelou o militar teria seguido sentido Lagoa até um local ermo, onde abandonou o veículo. Enquanto isso, se dirigiu ao hospital de Cabeceiras, para ter notícias sobre o estado de saúde da vítima de atropelamento.
Por volta das 23h, a Parati foi encontrada em frente à casa do irmão do motorista, na entrada do povoado de Lagoa, onde estavam o irmão do autor e o tio do condutor do Golf, vereador de Cabeceiras à época. Ao observar a chegada da PMGO, o dono do imóvel teria ido ao carro para retirar vários itens, como documentos pessoais.
Além disso, segundo a investigação, o veículo estava “todo depenado”, tendo sido removidas as rodas esportivas e equipamentos de som que anteriormente estavam equipadas no veículo. Ainda segundo testemunhas ouvidas no processo, boatos diziam que foram retiradas latas de cerveja do carro.
Ao longo das cinco horas que se seguiram após o ocorrido, registros telefônicos dos acusados mostraram que os suspeitos comunicaram-se pelo telefone pelo menos 11 vezes. As ligações revelaram inclusive que, no momento do acidente, os acusados encontravam-se nas proximidades da GO-346.