Instituto tem 71% da mão de obra composta por mulheres, presentes desde a assistência ao paciente até a alta gestão
As mulheres são a principal força de trabalho do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). As 6.332 colaboradoras atuais representam 71% dos 8.871 profissionais que atuam, ao todo, no Hospital de Base (HB), no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e nas seis unidades de pronto atendimento (UPAs), ocupando desde postos de assistência direta ao paciente até cargos de alta gestão.
Muitas dessas guerreiras tiveram uma trajetória de renúncias em suas vidas particulares para conseguirem se dedicar a profissões que salvam vidas de pessoas desconhecidas. O ano de 2020, marcado pela pandemia do coronavírus, revelou a coragem dessas mulheres ao escolherem estar no front de batalha, mesmo que isso representasse um perigo de contaminação para si mesmas ou para seus familiares.
“Saudamos todas as mulheres que dedicam parte da sua vida à busca por uma sociedade mais justa e igualitária, e, de forma especial, as profissionais de saúde que não medem esforços para atender a população”, afirma a vice-presidente do Iges-DF, Mariela Souza de Jesus. Emanuela Ferraz, que está à frente da Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa do instituto, também homenageia as colegas de trabalho: “Reforço a importância das mulheres que atuam fortemente na produção científica do Iges. Nossa equipe é majoritariamente feminina e inclui algumas das melhores pesquisadoras do Hospital de Base”.
Leia abaixo depoimentos de algumas heroínas da saúde que atuam nas unidades do Iges-DF e fazem de seu ofício uma missão de vida.
“Ser uma profissional de saúde é lidar com
a vida alheia de forma empática e fazer sacrifícios pessoais”
Larissa Michetti Silva, 32 anos, cirurgiã da Unidade de Trauma e preceptora de residência do HB
“Desde muito nova, já carregava comigo a certeza da vocação para a área da saúde. Mas isso não significa que minha trajetória até aqui tenha sido fácil. Quando decidi que queria ser médica, cheguei a ouvir frases como: ‘Essa área exige muita dedicação. Será que você vai ter tempo para ser mãe ou fazer outras coisas?’.
Já depois de formada e trabalhando como cirurgiã de trauma, recebi o convite para ser preceptora de residência da área. Mais questionamentos vieram: ‘Você é mulher! Será que vai dar conta?’. Ouvi diversas perguntas similares a essas durante a minha vida. Mas isso jamais me abalou. Sempre encarei como questionamentos que exigiam de mim uma resposta firme, porque eu tinha convicção de que era capaz.
Seguir na área da saúde exige muitos sacrifícios pessoais. Por vezes, precisamos abrir mão de um tempo mais longo com a família e amigos. Mas são renúncias que valem a pena. Para nós, mulheres, atuar na saúde tem um significado ainda maior, já que temos um instinto de cuidado que vai além dos aspectos sociais. Quanto a mim, sinto-me honrada e realizada em poder colaborar com a cura de um paciente ou conseguir, pelo menos, amenizar a dor de uma pessoa.”
“Ser mulher na área da saúde é buscar ajudar pessoas
que estão passando pelos piores momentos de suas vidas”
Jule Rouse de Oliveira Gonçalves Santos, 33 anos, médica emergencista e preceptora da residência em Emergência no HRSM
“Nasci em uma cidade pequena do interior da Bahia. Foi muito significativa a minha formação em medicina, já que fui a primeira da família a ingressar em uma faculdade. Onde eu cresci, vi muitas amigas sendo desencorajadas a estudar porque tinham que priorizar o casamento. Mas meu pai era alguém à frente do tempo dele e sempre me incentivou a estudar.
Ingressei na faculdade com 17 anos. Dois anos depois de formada, passei em um concurso em Brasília e vim. Sempre trabalhei com emergência e me especializei nessa área. Há três anos, recebi o convite para assumir a chefia da residência no Hospital de Santa Maria e não é uma tarefa simples.
Ainda hoje, percebo que as mulheres enfrentam dificuldades em posições de liderança. Ainda que seja de forma sutil. Quando um homem e uma mulher, ocupando o mesmo cargo hierárquico, se dispõem a falar em público, nota-se que a atenção das pessoas é mais voltada para a voz masculina. Eu mesma, se chego em um ambiente novo com muitos médicos homens, levo um tempinho para ganhar a confiança.
“Ser uma profissional de saúde é ter a
oportunidade de transformar e salvar vidas”
Graziani Izidoro Ferreira, 37 anos, enfermeira do Centro de Pesquisa do Iges-DF
“O trajeto foi penoso para que eu chegasse até aqui, mas o que eu passei me transformou na mulher que sou hoje. Aprendi a ser forte desde muito cedo. Eu tinha 7 anos de idade quando minha mãe foi diagnosticada com uma doença rara. Lembro-me de acompanhá-la nas internações até a minha vida adulta. Por tanto cuidar dela, fui me interessando cada vez mais pela área de saúde. Eu me encantava com o trabalho dos médicos e enfermeiros no cuidado com os pacientes.
Cheguei a passar no vestibular para medicina, mas acabei não concluindo. Tempos depois, comecei enfermagem. Foi um tempo em que eu estudava à noite, trabalhava de dia e ainda cuidava da minha mãe. Eu dei o melhor de mim para conseguir me tornar enfermeira e sou apaixonada pela profissão.
Também atuo como voluntária da trupe Doutores da Esperança (grupo de palhaços que percorrem os hospitais). Hoje sou doutoranda em enfermagem pela UnB e colaboradora do Iges-DF no Centro de Pesquisa, vinculado à Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa.”
“Ser uma mulher na saúde é ter um olhar
amplo e humanizado na gestão das políticas de saúde”
Érika Maurienn Franco, 48 anos, chefe do Serviço de Odontologia e Cirurgia Bucomaxilofacial do HRSM
“Moro em Anápolis (GO) e me desloco para Brasília toda semana para exercer minha função na Unidade de Odontologia do Hospital Regional de Santa Maria. A minha trajetória foi repleta de desafios e hoje não é diferente. Mas sempre busquei alcançar meus sonhos com foco, coragem e fé.
Minha garra aumentou após o nascimento das minhas filhas: Luiza, de 11 anos, e Laura, 9 anos. Elas crescem vendo a mãe se ausentar por causa dos plantões, mas compreendem e me ajudam a superar as dificuldades. É uma forma de ensiná-las sobre o significado de responsabilidade e o valor do trabalho. Por elas e pelos pacientes que tanto amo, pego a estrada com muita vontade de construir um serviço cada vez mais respeitado dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sou especialista em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Trabalhei em hospitais de urgência em Goiás e entrei para a Secretaria de Saúde do Distrito Federal em 2011, já na odontologia do HRSM. Era um pequeno ambulatório que, com muita dedicação da equipe nesses últimos 10 anos, se transformou em cinco serviços de excelência dentro da rede pública do DF.”
“Ser uma mulher na saúde significa me dedicar
de forma integral e incondicional a qualquer pessoa”
Irene Ferreira de Lima, 40 anos, chefe da Vigilância Epidemiológica das UPAs
“Minha trajetória na área da saúde é repleta de alegrias, mas também de momentos difíceis. Acompanhei de perto, no ano passado, a luta contra o câncer detectado no amor da minha vida: minha mãe. Ela foi internada no Hospital de Base (HB) com dois aneurismas no cérebro. Passou 15 dias na unidade de terapia intensiva (UTI), após ser submetida a uma cirurgia, e voltou para casa. Com o meu pai, o final foi diferente. Ele deu entrada na UTI do HB com quadro grave de insuficiência cardíaca e respiratória. Sei que recebeu os melhores cuidados, mas infelizmente não resistiu. Mesmo tendo passado por tudo isso em 2020, foi o meu trabalho que me ajudou a ser forte.
Eu sempre sonhei em atuar na área da saúde. Para isso, tive que conciliar a maternidade com os estudos. Fiz os cursos de auxiliar de enfermagem e técnico de enfermagem. Depois, vieram a graduação em enfermagem e a pós-graduação em gestão e auditoria em saúde.
Ao terminar a pós, me inscrevi no voluntariado da Secretaria de Saúde (SES). Dediquei-me a entender sobre as unidades de pronto atendimento (UPAs) 24h do DF e, com o tempo, tornei-me gerente de Apoio ao Serviço Fixo de Urgência e Emergência da SES. Hoje, como chefe da Vigilância Epidemiológica das UPAs, exerço essa missão com muito amor, pois consigo agregar conhecimento ao meu sonho de ajudar os usuários de forma humanizada e com muita dedicação.
Hoje consigo conciliar trabalho, família e outras atividades que me motivam e dão prazer. E digo com muita certeza que podemos ter uma carreira de sucesso e excelentes momentos em família. Sou feliz e amo o que faço.”
“Atuar na saúde é me esforçar diariamente para
ser melhor, sabendo que o meu trabalho faz a diferença”
Amanda Borges Oliveira, 32 anos, supervisora de Enfermagem da Unidade de Neurocirurgia do HB
“Sou natural de João Pinheiro (MG). Vim para Brasília em 2012, assim que terminei a graduação em enfermagem. Cheguei sem conhecer ninguém e fui em busca de emprego. É duro lembrar que recebi muitos ‘nãos’ no início. Entreguei dezenas de currículos. Com muito esforço, as portas foram se abrindo aos poucos. Mas, mesmo com todas as dificuldades, eu jamais pensei em desistir. Hoje sou supervisora da Neurocirurgia do Hospital de Base, um local em que, quando cheguei a Brasília, sempre passava pela frente e pensava: ‘Será que algum dia vou conseguir trabalhar ali?’.
A palavra que define a minha trajetória é ‘desafio’. Eu assumi uma unidade de 50 leitos cirúrgicos de alta complexidade em um hospital terciário que é referência na capital federal e no País. Sou intensivista, especialista em gestão pública e em saúde pública e estou finalizando um mestrado. Hoje eu sou extremamente realizada com o que eu faço. O que marca a minha vida é a minha carreira. Foi uma decisão muito acertada de escolher a área da saúde. Eu acredito que, de tudo de bom que podemos viver, o que realmente vai ficar marcado é o bem que fazemos para o próximo.”
“Como mulher da área da saúde, busco ter empatia
desde o primeiro contato com cada paciente”
Thais Barbosa, 31 anos, coordenadora de Enfermagem da UPA de Ceilândia
“Ao longo da minha vida profissional e pessoal, superei os mais diversos desafios, vivenciando sentimentos de alegria e realização pelas conquistas, mas também de frustrações e impotência. Ser mulher, filha, irmã e trabalhadora da Enfermagem é um desafio e, apesar das dificuldades —ou talvez por causa delas —,sinto orgulho da trajetória até aqui.
A escolha pela enfermagem foi motivada pela observação da atuação dessas profissionais. Vi uma oportunidade de assumir uma profissão que é pura devoção e amor ao próximo. Em 2011, meu sonho foi concretizado com a formatura. Em seguida, me especializei em cardiologia e unidade de terapia intensiva (UTI) e comecei a carreira como enfermeira assistencial da UTI Adulto.
Outra paixão surgiu em mim: o de liderar equipes. Assim, comecei a minha atuação como gestora e me vi no desafio de estimular os colaboradores, visando à valorização dos profissionais de enfermagem e do ser humano.
Acredito que um bom líder e profissional de saúde, independentemente da posição que exerça na instituição, deve compreender as necessidades humanas, aprender a cuidar com sabedoria, com conhecimento e, acima de tudo, com amor.”