O Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (18/10) um voto de solidariedade ao cantor Jorge Mário da Silva, conhecido por Seu Jorge, vítima de racismo durante show realizado em Porto Alegre (RS). A iniciativa partiu do senador Paulo Paim (PT-RS), que condenou o episódio sofrido pelo cantor.
“O racismo não é um ato isolado, ao contrário, o racismo é uma prática diária incrustada, infelizmente, na sociedade brasileira, e isso assola, atrasa o desenvolvimento do nosso país. Passados mais de 130 anos da abolição da escravatura, estamos vendo aí que a população negra ainda convive dia e noite com a dor de ser ofendida por algumas pessoas que se sentem superiores em razão da cor da pele. Mal sabem eles que inferior não é o ofendido, mas é o ofensor, quando manifesta o seu preconceito e sua incapacidade de reconhecer a identidade, a cultura e as contribuições do outro para a formação e o desenvolvimento de seu país”, disse o senador.
Turnê
O caso ocorreu na última sexta-feira (14/10), durante um show da turnê Irmãos, em que Seu Jorge divide palco com o músico Alexandre Pires. A apresentação ocorreu no clube Grêmio Náutico União. À polícia, foram relatados sons de macacos, além de gritos de “vagabundo” e “safado”. O episódio é investigado pela Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), do Departamento Estadual de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV), que tenta entender o que aconteceu no show do cantor.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, comemorou a iniciativa de Paulo Paim e repudiou o ataque ao cantor.
“Gostaria de manifestar o nosso mais absoluto repúdio a esse episódio envolvendo o Seu Jorge, que é uma figura querida por todos os brasileiros, esteve recentemente aqui no Congresso Nacional militando em favor de boas causas legislativas. Ser vítima de racismo é algo intolerável para Seu Jorge, para qualquer brasileiro, para qualquer brasileira, para qualquer ser humano. Fico muito feliz de ouvir que esse Senado tem sido transformador na luta contra racismo no Brasil, não só com votos, com ações, com falas, com pronunciamentos, mas com medidas efetivas, com aprovação de projetos que visam mudar essa realidade”, afirmou.
Ofensas
No vídeo divulgado pelo artista na segunda (18/10), o cantor disse que finalizou a apresentação e saiu do palco. Antes de retornar para fazer o “bis”, foi surpreendido com gritos e ofensas racistas.
“Começo a escutar muitas vaias e xingamentos, e logo, por conta disso, percebi que não seria possível voltar para fazer o famoso bis. Voltei ao palco e de maneira respeitosa agradeci a presença do público e me retirei do local do show. Eu não reconheci a cidade que eu aprendi a amar e respeitar. Não era a cidade que eu conheci. O que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, relatou.
De acordo com o cantor, as únicas pessoas negras que estavam no clube eram funcionários. Ele ouviu relatos de que os trabalhadores foram proibidos de interagir com os músicos.
“Um evento reservado somente para os sócios do clube. Particularmente, não percebia nenhuma pessoa negra no jantar. E as pessoas que eu encontrei foram somente os funcionários. Ouvi dizer que estavam proibidos de olhar para mim ou falar comigo quando eu chegasse no local do show”, contou.
Veja:
Combate ao racismo
No relato, Seu Jorge se dirige às comunidades negras do Brasil, detalhando o combate ao racismo no país: “Estamos mais unidos do que nunca e vamos vencer essa guerra que segrega o nosso povo à miséria e à falta de oportunidades. Que mata e maltrata nosso povo, filhos, sobrinhos, primas, irmãs, irmãos, todos os dias”.
“Estaremos na luta juntos, denunciando e combatendo todo tipo de tipificação da nossa gente, e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca, jamais, nos curvaremos ao racismo e à intolerância, seja ela qual for”, afirmou.
Investigações
Além do depoimento de diversas pessoas que estavam na plateia, vídeos da apresentação estão sendo analisados pela Polícia Civil de Porto Alegre.
A corporação ainda pretende ouvir novas testemunhas e, de acordo com as autoridades responsáveis pelo caso, Seu Jorge seria a vítima das ofensas. Apesar disso, o crime diz respeito à coletividade e independe de qualquer representação da vítima.
Em nota, o clube Grêmio Náutico União afirmou que está “apurando internamente os fatos ocorridos”.
“Se for comprovada a prática de ato racista, os envolvidos serão responsabilizados. Afirmamos que o União, seguindo seu Estatuto e compromisso com associados e sociedade, repudia qualquer tipo de discriminação”, divulgou a organização.