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Balconista de farmácia incitava clientes a usar Zolpidem: “Quer mais?”

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

Explorar ao máximo o vício de homens e mulheres em opioides era uma das principais estratégias do grupo criminoso que comandava o esquema de venda de medicação controlada desmantelado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), nesta segunda-feira (14/10). O balconista da farmácia, no Cruzeiro, costumava mandar mensagens insistentes aos usuários oferecendo cada vez mais os medicamentos com efeitos analgésicos e sedativos potentes.

Policiais da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte) prenderam o dono de uma drogaria, o farmacêutico e o balconista, e desmantelaram esquema de venda de Zolpidem. A coluna teve acesso a trechos de conversas via WhatsApp entre o balconista e uma cliente. O funcionário da farmácia pergunta “se os remédios acabaram e se ela queria mais”. A mulher responde que ainda tinha o medicamento. Dias depois, o balconista faz a mesma pergunta.

A investigação começou após a interceptação de uma carga de 450 comprimidos de Zolpidem, que estava sendo levada por um motoboy de uma drogaria do Cruzeiro para uma cliente no Lago Norte. Dessa forma, os policiais retornaram ao estabelecimento e prenderam o proprietário, o farmacêutico responsável técnico e o balconista.

Veja conversa entre o balconista e uma cliente:

 

Sem sistema

A polícia descobriu que o grupo não seguia o trâmite estabelecido por lei, que regula a venda de medicamentos controlados. Os criminosos não cadastravam as centenas de caixas de opioides vendidos clandestinamente no sistema da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em vez de controlarem a emissão das notas fiscais e lançarem os lotes de remédios comprados pela farmácia, o trio preso pela PCDF ignorava o lançamento dos códigos no sistema que controla o fluxo de entrada e saída dos remédios comercializados pelo estabelecimento.

Uma das maiores vítimas do esquema foi uma moradora do Lago Norte. Ainda de acordo com a polícia, a mãe da vítima registrou ocorrência apontando que a filha precisou ser internada em São Paulo por vício em Zolpidem. No quarto da jovem, foram encontrados cerca de 180 caixas do medicamento, e os familiares não sabiam o que fazer com aquela quantidade de medicação controlada.

Epidemia de Zolpidem

Na farmácia, os investigadores encontraram dezenas de caixas de medicações controladas para venda sem receita, entre eles: Ritalina, Canabidiol, Alprazolam, Sibutramina, além do Zolpidem. Os criminosos foram indiciados por tráfico de drogas, que é considerado crime hediondo e cuja pena varia de 5 a 15 anos.

O uso abusivo do Zolpidem, medicamento utilizado para o tratamento da insônia, alcançou status de “epidemia” no Brasil, motivando alertas de médicos e até uma decisão recente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que alterou os tipos de receita e as regras para prescrição e venda em farmácias.

O Zolpidem possui alta capacidade viciante e pode produzir convulsões, caso tenha a administração cessada repentinamente. Ele também pode causar apagões de memórias, induzindo as pessoas a fazerem coisas que depois não se lembram. Esse efeito hipnótico é usado também pelos criminosos, para dar o chamado “golpe do boa-noite, cinderela”.

“Familiares devem ficar atentos à compra e ao uso indiscriminado dessa medicação, avisando a polícia caso percebam que parentes têm comprado sem acompanhamento médico e receitas”, alertou o delegado Erick Sallum.

Estopim

Parte do estopim do uso abusivo do Zolpidem, segundo uma parcela da comunidade médica nacional, foi a flexibilidade no acesso. Até o fim da década de 1990, a droga integrava a lista de “remédios tarja preta” do Ministério da Saúde. Para conseguir comprá-la, os pacientes deveriam apresentar na farmácia uma receita azul, mais difícil de se conseguir.

Em dezembro de 2001, no entanto, a Anvisa retirou o medicamento do grupo mais restrito e estabeleceu que os pacientes poderiam adquirir o medicamento com uma receita de controle especial, aquela emitida em duas vias, uma para paciente e outra para farmácia. Na prática, ela é menos rigorosa.

De acordo com a PCDF, a própria Anvisa percebeu o crescimento exponencial do uso abusivo e, a partir de agosto de 2024, voltou a cobrar o receituário azul (B). Todavia, por falta de fiscalização administrativa, farmácias estão fazendo compras em grandes quantidades nos laboratórios e revendendo no mercado paralelo.

“Depois da operação, recebemos informações sobre diversas outras farmácias que estariam fazendo o mesmo. Iremos mapeá-las e prender todos que busquem o lucro pelo incentivo ao vício alheio. Venda de medicação controlada sem a retenção de receita obrigatória se equivale ao tráfico de drogas, sendo uma conduta gravíssima”, completou Sallum.

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