Apesar da extensa ficha criminal que já rendeu 125 anos de prisão, o mais recente fugitivo do Complexo Penitenciário da Papuda nem sempre se identificou como um homem fora da lei. No passado, Argemiro Antonio da Silva, 62 anos, já foi cabo do Exército Brasileiro e vendedor ambulante. O criminoso é procurado após serrar as grades da cela onde estava enclausurado e escapa do cárcere, na última sexta-feira (3/1).
Em um processo que respondeu por roubo a banco em 2001, Argemiro apresentou como profissão a carreira militar nas Forças Armadas. Veja:
A residência dele, na época, ficava em Ceilândia. Ele foi acusado junto ao irmão de tramar um roubo que sequestrou funcionários de uma agência no Banco do Brasil por 12 horas.
O crime ocorreu em Padre Bernardo, em 2001. Na vida criminal, a carreira de Argemiro foi tramar roubos a instituições financeiras. Conforme o Metrópoles revelou, o fugitivo comandou um roubo milionário de dentro da cadeia, em 2018.
A ação levou R$ 1,3 milhão dos cofres de uma agência bancária em uma cidade no interior goiano com apenas 17 mil habitantes. No mesmo mês, a quadrilha comandada pelo criminoso invadiu outro banco em uma cidade ainda menor, com apenas 9 mil habitantes, mas teve o plano frustrado por uma operação da polícia que desmantelou o grupo criminoso.
“Novo cangaço”
Com fuzil e armas de uso restrito, bandidos invadiram uma agência bancária em Carmo do Rio Verde (GO) na madrugada de 24 de março de 2018. O município é pequeno, com apenas 9 mil habitantes, e o tamanho era um dos interesses do grupo, que mirava em locais pacatos e com menor força policial.
A ação típica de grupos do Novo Cangaço tinha como objetivo roubar a instituição financeira, repetindo o assalto milionário que ocorreu por parte do grupo em Crixás semanas antes.
Os bandidos, no entanto, foram surpreendidos por policiais militares e civis de Goiás que já esperavam o ataque. A ação resultou em três minutos de troca de tiros e na morte de três envolvidos no crime.
Uma investigação policial apontou que Argemiro, vulgo “Costelinha”, era chefe de uma quadrilha de roubo a bancos na época do crime em Crixás. Só em Goiás, o bando de criminosos liderado pelo atual fugitivo levou R$ 1.346.467,08 em espécie da agência bancária.
Na época, Argemiro estava detido no complexo prisional de Aparecida de Goiânia por outros delitos. Da cela, orquestrou o assalto à agência do Banco do Brasil de Crixás, município 340 km distante dele.
A organização criminosa ainda levou dois revólveres calibre 38 e 20 munições que pertenciam à equipe de vigilância. Essas informações constam na denúncia feita pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) naquele mesmo ano. O roubo bem-sucedido provocou uma investigação que acabou por desmantelar a quadrilha.
Na sentença que condenou Argemiro a 17 anos de prisão, a Divisão Antirroubo a Bancos, da Polícia Civil de Goiás (PCGO), detalhou como chegou ao mandante que operava a rede criminosa.
Investigação
A Divisão Antirroubo a Bancos, da Polícia Civil de Goiás (PCGO) teve o apoio de um informante. Ele avisou que haveria um novo roubo no fim do mês, em outra cidade. Os investigadores identificaram que Argemiro programava o crime para a data prevista em Carmo do Rio Verde (GO).
Segundo a polícia, os criminosos escolhiam uma cidade no interior por conta da quantidade pequena de viaturas no município. Eles contaram com o apoio de Daniela Rodrigues da Silva, que seria responsável por alugar uma casa e um carro.
A quadrilha, que recebia ordens de Argemiro por meio de um grupo de WhatsApp intitulado “Progresso 007”, estava dividida em dois grupos: uma responsável por entrar na agência bancária e outra, pela locação de imóveis e pelo deslocamento.
Sabendo o local do próximo crime, os policiais mapearam todas as agências bancárias, traçaram possíveis rotas de fuga e acompanharam carros com placas de outras cidades ou que tivessem sido alugados.
Equipes ficaram de campana a partir de 23 de março em pontos diferentes na cidade. A estratégia era surpreender o grupo na noite do crime.
Quadrilha em ação
Por volta das 22h de 24 de março, uma intensa movimentação começou na porta da agência do Banco do Brasil. A polícia identificou que três carros que já eram monitorados passaram na frente da agência.
Na madrugada, uma das criminosas envolvidas simulou uma discussão na porta do banco. O intuito era ver se alguém por perto alertaria a polícia ou se uma viatura passaria naquele horário.
Às 3h, um veículo estacionou nas proximidades da instituição bancária, e os bandidos desembarcaram do carro.
Eles começaram a furar as paredes do banco. Os bandidos acionaram um equipamento bloqueador de sinais para desabilitar tanto o alarme da agência quanto os celulares próximos. Por conta disso, os dispositivos da polícia sofreram alteração.
Segundo os investigadores, o objetivo do bloqueio era impedir que alguma testemunha acionasse a polícia. Arilson Eduardo da Conceição era o responsável pelo dispositivo e saiu de Cuiabá (MT) para operar o equipamento.
Os criminosos tinham maçarico, ferramenta para quebrar a parede da agência e o bloqueador de sinal. Eles ainda estavam armados com um fuzil e duas pistolas de uso restrito.
Flagrante e tiroteio
Após ordem da Delegacia Antirroubo, a Polícia Militar de Goiás entrou em ação e abordou os criminosos.
Segundo a investigação, os bandidos revidaram, o que culminou em três minutos de troca de tiros, com três pessoas mortas, todas da quadrilha.
A polícia apreendeu os celulares dos criminosos e identificou o grupo “Progresso 007”, com conversas relacionadas a crimes contra instituições financeiras, com fotos e áudios dos suspeitos apontando os obstáculos na ação.
Um dos envolvidos conseguiu avisar no grupo a ação da polícia. Em seguida, todos foram excluídos. As investigações comprovaram que o grupo era administrado por Argemiro de dentro da cadeia.
Por esse processo, Argemiro cumpria pena de 17 anos e 6 meses.
Além dele, Laurêncio Francisco da Silva, conhecido como Véi Lourenço, também estava preso e integrava a quadrilha. Ele ainda não tinha sido condenado quando morreu.
Os dois foram apontados na investigação como tendo forte ligação a uma facção do Rio de Janeiro, mas sem detalhes sobre qual.
Fuga de presídio
Nessa sexta-feira (3/1), Argemiro serrou as grades do banheiro da cela para fugir da cadeia. Apesar de ser de alta periculosidade, ele estava em um bloco com presos do semiaberto que não tem o controle tão rígido quanto em outros locais.
Por conta da idade, Argemiro se encontrava na ala de idosos, do Centro de Internamento e Reeducação (CIR), quando escapou.
De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seape/DF), a fuga foi constatada por volta das 7 horas desta sexta, em conferência de rotina feita pelos policiais penais.
“Prontamente, a equipe efetuou buscas no perímetro e realizou ocorrência policial, solicitando a perícia da Polícia Civil (PCDF) no local”, informou a Seape em nota.
De acordo com a nota, equipes de recaptura da Polícia Penal estão realizando diligências em todo o Distrito Federal.
Qualquer informação sobre o paradeiro de foragidos do sistema penitenciário deve ser repassada à Polícia Penal do DF pelo telefone (61) 99666-6000, à PMDF pelo 190 e à PCDF no 197. A denúncia é feita de forma anônima.