No mundo do crime, as organizações criminosas têm códigos de conduta internos que regulam o comportamento dos seus membros. Os “artigos” podem variar, mas geralmente incluem princípios como lealdade ao grupo, discrição, respeito à hierarquia e punições severas para traição. No complexo penitenciário da Papuda, uma das regras que reina entre os detentos envolve um dos luxos mais apreciados por quem vive no cárcere: ter o conforto de deitar em uma cama para passar as noites.
Apinhado, o sistema carcerário do DF formado por suas sete unidades prisionais contabilizava 15.961 detentos na tarde desta terça-feira (1º/10). Nem de perto sobram camas para todos. Pensando em explorar o filão, a facção criminosa Comboio do Câo, genuinamente brasiliense, gerencia o “negócio”. Dormir nas celas da Papuda em um dos colchões sobre a base de concreto, com o mínimo de conforto, se for possível, custa dinheiro, e não é barato. Os valores podem variar entre R$ 160 e R$ 180.
Encorpada dentro das cadeias, a facção estrangulou qualquer chance de a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) ou da carioca Comando Vermelho exercerem qualquer tipo de ingerência no “trampo das camas”. A coluna Na Mira apurou que o aluguel das camas ocorre com mais frequência nos Presídios do Distrito Federal I e II (PDF I) e (PDF II), além do Centro de Internamento e Reeducação (CIR).
Lucro alto
O detento que possui condições de pagar pela cama cama escapa do chão frio. Alguns dormem sentados ou até em pé dentro de celas superlotadas. Citando um exemplo, um bloco com 26 celas possui 12 camas. Ao todo, seriam 312 colchões a RS 160. Não existe movimentação financeira dentro da Papuda. Os valores são transferidos via Pix por familiares dos presos para chaves indicadas pelos faccionados.
Numa conta rápida, o aluguel renderia quase R$ 50 mil para a facção. Isso apenas em um bloco, demonstrando ser uma ma verdadeira mina de dinheiro fácil para fomentar as atividades criminosas do grupo girando o capital, permitindo a compra de mais drogas e armas para financiar as ações externas.
Respeitados no mundo do crime, os detentos mais antigos das celas sempre ficavam com as camas. Os locais de descanso sempre foram moeda de troca. As lideranças “engoliam” as camas e passavam para quem pagasse. Mas, como atualmente não existe mais dinheiro dentro da cadeia, os pagamentos via Pix são feitos do outro lado dos muros da Papuda.