Neste domingo (5), a advogada, pecuarista e triatleta Adriana Mangabeira Wanderley participou do Campeonato Brasileiro de Triatlon, na seletiva para a ITU (Copa do Mundo de Triathlon), que será realizada em Dubai no próximo ano.
Mangabeira chegou em segundo lugar na prova deste domingo e ficou com a medalha de prata representando desta vez o Distrito Federal, cidade que adotou há quase cinco anos. Ela falou com exclusividade com o Blog sobre como o esporte mudou sua vida. Confira:
Donny Silva – Como chegou ao Triathlon?
AMW – Em 2001, meu pai faleceu vítima de câncer e tive uma depressão grave, que hiperatividade enorme. Não dormia, cheguei a passar uma semana acordada. Fiz uma consulta a um psiquiatra muito bom, no Instituto do Sono em São Paulo, que amava esporte e ele me perguntou se eu praticava algum. Respondi que só treinava musculação levemente e caminhava na esteira durante 20 minutos na velocidade de 6km/h. Que vergonha!!! Falei em um tom de voz baixo, então ele me questionou, firmemente, se eu não achava que deveria praticar um esporte que me desgastasse para gastar toda aquela energia. Ele enfatizou que era contra utilizar medicação e afirmou que, se eu conseguisse usar aquela energia a meu favor, eu iria ficar muito bem. Então ele sugeriu que eu fizesse TRIATHLON. Naquele momento, eu pensei que ele tivesse dito ‘Teatro’. Naquela época esse esporte não era conhecido, foi aí que ele me explicou que era um esporte que englobava nadar, pedalar e correr.
Donny Silva – Qual foi sua postura após essa consulta?
AMW – Naquela época, voltei para minha cidade, Maceió, e lá na minha academia fui à piscina e comentei com o professor de natação que teria que fazer esse tal de Triathlon. Por sorte ele era triatleta e mandou eu entrar na piscina para fazer um teste comigo. Sim, nadei com a roupa que estava e, ao sair de uma volta de 50 metros morta e ofegante, ele me disse que começaríamos o treino na manhã seguinte. No outro dia, super ansiosa, cheguei muito cedo na academia para ter treino desse esporte que mudou minha vida. Sem dormir direito e ainda à base de medicamentos, tive minha primeira aula e ‒ pasmem! ‒ eu comecei a pedalar na bicicleta ergométrica da academia. Comecei do zero.
Donny Silva – E quais foram as reações após esse encontro com o Triathlon?
AMW – Percebia que, naquele primeiro mês, eu que já estava tomando um remédio chamando Neozine pré-cirúrgico para dormir, já queria cada vez mais tomar menos para realizar meus treinos com melhor qualidade. No dia que completei trinta dias de treinos no esporte, resolvi jogar toda aquela medicação no mar e me dedicar cada vez mais ao meu novo esporte.
Donny Silva – Quando participou da primeira competição de Triathlon?
AMW – Após noventa dias treinando, me inscrevi na minha primeira competição. Foi um Campeonato Brasileiro Olímpico de Triathlon em João Pessoa. Eu tinha acabado de aprender a andar de bicicleta e tinha muita vontade de sair daquela situação de tristeza. Meu treinador Marcos Fernando Borgognoni foi fundamental nessa fase. Ele me acompanhou e me fez acreditar que o esporte salvaria a minha vida, bastava ter força de vontade e superação. Fui a última a sair da água, mas encarei a prova como uma diversão. Ao passar na linha de chegada, senti uma alegria inexplicável; algo que não sentia desde a partida do meu pai.
Donny Silva – E qual foi a sensação dessa vitória?
AMW – Para minha surpresa, havia ficado em quinto lugar na minha categoria e carimbado meu passaporte para o ITU (Copa do mundo de Triathlon) na Ilha da Madeira em Portugal. Naquela hora, eu chorei de alegria. Estava saindo dos remédios e iniciando uma nova fase da minha vida. Vestir o uniforme do Brasil e representar meu país era algo simplesmente mágico! Assim começou minha grande paixão pelo Triathlon. Além de me salvar dos remédios, ele me fez descobrir um novo sentido na minha vida, fazer novos amigos, novas viagens. Toda tristeza e angústia ele me recompensava com felicidade que vinha através de medalhas de finisher. Fui campeã pan-americana, sul-americana, e todos os anos conseguia me classificar para todas as copas do mundo de Triathlon. Meus olhos sempre se enchem de lágrimas nas largadas; uma emoção, um sentimento de gratidão a Deus por ter saúde para estar largando e representando meu estado ou meu País.
Donny Silva – Você passou por um momento de grande dor. Como foi esse momento na sua vida de atleta?
AMW – Logo depois de vencer campeonatos, descobri que minha mãe estava com câncer e lutei ao lado dela durante dez anos; “químio” por “químio” e a minha cabeça de atleta de dar sempre o meu melhor me ajudou bastante nessa luta. Cheguei ao ponto de colocar minha bike no ‘rolo,’ ao lado da cama dela no hospital. Ela me apoiava, pois ela sempre ressaltava que não queria que eu passasse por aquela doença. Os oncologistas sempre comentavam comigo que o esporte criava uma cápsula de proteção contra aquela hereditariedade. Minha mãe se foi e eu sofri. Sofri de uma forma diferente, morro de saudades até hoje, claro, mas a ‘cabeça’ que o Triathlon me deu foi fundamental nessa perda. Enfrentei tudo no cru, cheguei a ir novamente a uma psiquiatra e ela me receitou nadar, correr e pedalar. E assim faço até hoje.
Donny Silva – O Triathlon preencheu sua perda com a morte prematura da sua mãe?
AMW – Nasci numa família de pessoas doentes, câncer, rins policísticos, diabetes, enfarte, pressão alta, AVC e sempre conversei comigo que, se dependesse de mim, iria lutar até as últimas contra aquele DNA. Hoje sou ironman, acredito no esporte como forma de dar qualidade de vida e tenho incentivado as pessoas a abraçaram o Triathlon. Apesar de ser órfã, o esporte preenche meus espaços vazios, faz com que eu tenha saúde; sim, faço meus exames duas vezes por ano e sempre recebo os parabéns. Tenho rins policísticos e controlo através do esporte, da vida saudável. Hoje o Triathlon não é só uma paixão, é um estilo de vida. Toda vez que saio para treinar penso: vou ali tomar uma cápsula de saúde.
Donny Silva – O que seu irmão pensa a respeito?
AMW – Meu irmão mais novo, no início, achava que aquilo era coisa de maluco. Hoje tenho certeza de que ele se arrepende, pois os rins dele pararam e ele se encontrou fazendo hemodiálise em dias alternados e finalmente fez um transplante.
Donny Silva – Quais são seus planos?
AMW – Estou me preparando para mais um Ironman e desde daquele dia não tomei mais remédio algum para dormir. À cada competição tenho um encontro com Deus e saio dela mais fortalecida espiritualmente para a vida. Sou advogada e, no meu trabalho o esporte me ensinou a lutar cada vez mais nos meus processos e não desistir nunca. Também quero disputar o Senado em 2022 para defender o esporte, o agronegócio e a Justiça social. Essas serão as minhas bandeiras.
Donny Silva – O Triathlon é um esporte difícil?
AMW – Unir as três modalidades não é uma tarefa fácil, por isso, acontece sempre de, quando se melhora em uma modalidade, cair o rendimento um pouco em outra; esse é o grande prazer da vida: se desafiar. Sempre gosto de relatar essa história, pois o esporte salvou a minha vida e gostaria que ele também ainda salvasse muitas vidas por aí. Disputei neste domingo (5) minha primeira prova pelo meu amado Distrito Federal. Já havia disputado em anos anteriores mas por Alagoas. Sou grata a Deus e ao povo dessa cidade que me abraçou de verdade.
Fonte: Donnysilva.com.br