As eleições em Águas Lindas de Goiás, município mais populoso do Entorno do Distrito Federal, neste domingo (6/10) foram marcadas pela sujeira nas ruas, uma urna com erro de funcionamento em uma das maiores zonas eleitorais do município e um misto de esperança e indignação nas seções de voto.
As eleições no município, com mais de 121 mil aptos a votar, atraíram novos eleitores e os mais maduros no processo eleitoral. A aposentada Martinha Santos, por exemplo, tem 86 anos e, mesmo sem ser obrigada, compareceu às urnas com um sorriso no rosto. “Eu vim votar porque eu acredito no meu candidato. E se ele ganhar, saber que foi o meu voto um dos que ajudou, vai me fazer sentir muito orgulho” disse a eleitora, esperançosa.
Por sua vez, a também aposentada Neide Alves, 64, é moradora de Águas Lindas há mais de 30 anos, mas não compartilhou da mesma empolgação ao fazer sua escolha para vereador e prefeito.
“Eu vou no menos pior. Preferi um candidato que seja a primeira vez, que não saiba ainda fazer tanta coisa mal feita”, confessou.
Já a jovem Gabriela Alves, 20 anos, chegou cedo para ser uma das primeiras a votar na sua seção e depois ainda ter tempo para ir ao trabalho. Mesmo sendo apenas a sua segunda vez nas eleições municipais, ela acredita na importância na participação eleitoral e diz que teve o filho, de 2, em mente ao fazer sua escolha de candidato.
“O mais importante para Águas Lindas para mim é saúde e educação. Meu filho já passou muito pelo hospital e eu tinha que ir lá para o DF para poder ter atendimento. Aqui é um pouco precário ainda”, afirmou.
Santinhos
O Metrópoles acompanhou as eleições e flagrou, como já é praxe nos pleitos eleitorais, santinhos e adesivos espalhados pela cidade. O Colégio Estadual Maria do Carmo Lima foi um dos vários locais de votação em Águas Lindas que amanheceram com as propagandas eleitorais esparramadas pelas ruas e calçadas.
Com vassouras e pás velhas, pelo menos quatro fiscais da zona eleitoral encararam o calor extremo que DF e Entorno para catar os santinhos que inundavam as ruas e calçadas.
“Isso não é correto, né? Porque todo esse lixo suja a cidade, entope os bueiros e vira a maior bagunça. Mas infelizmente se até para presidente é a mesma coisa, não vai ser [durante as eleições municipais] no estado que vai mudar” opinou um dos fiscais, que preferiu não se identificar.
Os santinhos nas ruas não são apenas um incômodo, mas também ao risco da segurança dos eleitores, em especial os idosos.
Na Escola Municipal Professor Inivaldo Guedes da Silva, antes mesmo do início das votações um senhor escorregou em um dos montes de panfletos jogados nas ruas e caiu, conforme relatou Marta Nascimento, 24. Por sorte, o homem não se machucou.
“Isso é inaceitável. Foram mais de 45 dias pra escolher o candidato e a gente ainda tem que passar por essa situação ridícula. As pessoas escorregam, podem se machucar e nada de uma fiscalização um mais eficiente, porque multa eles [os responsáveis pela poluição dos santinhos] têm dinheiro para pagar” reclamou a estudante.
Não apenas aos eleitores, mas a infestação dos santinhos também é incômodo aos demais moradores e comerciantes da cidade. O petshop de Wilton Carlos, 39, por exemplo, foi um dos vários comércios que teve a entrada tomada pelos papéis jogados no chão.
“No sábado (5/10), não estava assim não. Não precisava de toda essa sujeira, mas fazer o quê? Toda eleição é assim” disse o proprietário da loja de animais, que fica na esquina de um dos colégios onde ocorrerem as eleições.
Urna com problemas
Na Escola Municipal Professor Inivaldo Guedes da Silva, uma das maiores zonas eleitorais da cidade, a fila de eleitores começou às 6h40, mais de uma hora antes da abertura dos portões, às 8h.
A votação para vários eleitores foi tranquila, mas na seção 169, a urna apresentou um erro de funcionamento ao computar o voto para prefeito, logo no voto do primeiro eleitor.
Confira:
Mesmo com a chegada dos técnicos, o erro ocorreu outras duas vez ao longo da manhã. Para o borracheiro Gideon Paulino, 56, o ocorrido foi um total desrespeito com o eleitorado enxuto do município.
“É uma falta de respeito com o ser humano, porque isso aí já tinha que ter uma urna reserva aqui na escola. Agora nós temos que ir embora pra votar à tarde quando o [Tribunal Regional Eleitoral de Goiás] TRE trouxer uma nova. Isso mostra o porquê da desconfiança do povo dessa cidade [com o processo eleitoral]. De 450 mil habitantes, nós só temos 120 mil eleitores. O pessoal que está no poder tinha que passar mais uma confiança pra população, isso aí tá faltando”, argumentou.
Mais Eleitores
Em comparação às eleições de 2020, ano do auge da pandemia do Covid-19, os municípios do Entorno do Distrito Federal registraram um aumento no número do eleitorado.
Em Águas Lindas, por exemplo, como mostram dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2024 o município tem um total de 121.788 eleitores. Já em 2020, o número era de 94.752.
São esperados que 693.549 eleitores votem neste domingo nos 12 municípios goianos que formam o Entorno do Distrito Federal. A eleição ocorre de forma simultânea em todo país, com início às 8h e encerramento às 17h – com possível extensão em casos de erros técnicos com a urna ou excesso de filas.
Todos os municípios do Entorno do Distrito Federal terão apenas o primeiro turno para escolher os gestores nas eleições de 2024. De acordo com o TSE, só vai a uma segunda etapa quando há 200 mil eleitores na cidade.
O município que chega mais perto do número é Luziânia, que conta com 135.082 eleitores. No entanto, ainda não é suficiente para atingir a cota estabelecida. Desta forma, os prefeitos das cidades da área metropolitana do Distrito Federal serão definidos neste domingo.
Veja o número de eleitores para cada cidade do Entorno, pela quantidade de eleitores:
Luziânia – 135.082
Águas Lindas – 121.788
Valparaíso – 96.616
Formosa – 78.580
Planaltina – 67.058
Novo Gama – 58.848
Cidade Ocidental – 48.686
Santo Antônio do Descoberto- 47.170
Cristalina – 38.356
Alexânia – 22.348
Padre Bernardo – 20.944
Cocalzinho de Goiás – 18.073