Nesta primeira parte da entrevista exclusiva ao blog, o empresário Bruno Bandeira faz revelações detalhadas sobre o modus operandis do lobista Kennedy Braga na GEAP
Ex-sócio de Kennedy Braga, conhecido lobista e empresário do setor de saúde, Bruno Bandeira decidiu contar tudo o que viveu ao lado do homem conhecido pelo voraz apetite por contratos públicos. Kennedy é amigo pessoal do senador Ciro Nogueira (PP-PI) e detém outras fortes amizades com figurões do poder em Brasília.
Com negócios em no Distrito Federal e no Piauí, Kennedy é milionário e autoritário, e quando acuado por investigações, usa de sua influência para se livrar de acusações. Mas desta vez o fogo veio direto de quem conviveu com ele no mundo dos negócios que envolvem dinheiro público voltado para a saúde.
Confira esta bombástica entrevista com Bruno Bandeira:
Quando conheceu seu ex-sócio?
Conheci João Kennedy Braga ainda no governo da presidente Dilma Rousseff (PT); não me recordo o ano, mas já era final do governo dela ou seja, poucos meses antes do impeachment.
Como você se tornou sócio de Kennedy Braga?
Eu havia comprado uma participação na empresa Opção Serviços Médicos Ltda, conhecida comercialmente como MEDERI BRASÍLIA, CNPJ 10.541.877/0001-43, empresa que ainda possuo participação societária, e necessitávamos melhorar nosso fluxo de caixa com o adiantamento de recebíveis referente aos serviços prestados a planos de saúde, todos no seguimento da Autogestão, sendo, na época, a GEAP nosso maior cliente com aproximadamente 70% dos nossos pacientes. Com a ascensão de Michel Temer ao poder, recebi, no telefone comercial da empresa, uma ligação do lobista Kennedy Braga pedindo que o procurasse em seu escritório, de conhecimento público, localizado na QI 13
do Lago Sul, logo acima na Agência do Banco Brasil. Inicialmente relutei e não atendi ao pedido, mas diante da insistência ao longo de várias semanas acabei procurando-o.
Como foi a relação comercial a partir desse encontro?
Fui recebido e ele, como de costume, foi direto ao assunto: “Você tem a receber da GEAP aproximadamente 1 milhão de reais e eu libero isso hoje à noite. Todas as suas faturas que deveriam ser pagas com 90 dias serão pagas no dia 05 de cada mês e vou direcionar todas os pacientes de home care para sua empresa. Quero 10%.”
Como reagiu à proposta do lobista?
Eu fiz, de cabeça, o custo financeiro do dinheiro e a proposta dele era vantajosa. Eu pagava juros superiores a 10% ao mês, ou seja: meu custo se reduziria e muito para bancar a operação mensal que era muito cara e englobava médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, medicamentos e materiais hospitalares. Então respondi: “Não tenho autonomia para decidir isso sozinho. Vou buscar meu sócio, Yuri Garagin de
Matos Lima, e decidimos aqui.”
E você retornou para dar a resposta?
Poucos minutos depois estávamos lá: eu, Yuri e Kennedy. E obviamente aceitamos.
Essa situação perdurou, ou seja, benefícios para empresa Mederi Brasília até maio de 2018, ocasião que me desliguei da empresa. Ao longo de todo esse período os repasses ao Kennedy Braga foram transferidos diretamente da conta da empresa Mederi Brasília para empresas do mesmo ou por ele indicadas, ou seja, operações 100% rastreáveis.
Todas as transferências foram autorizadas pelo senhor Yuri, com sua assinatura eletrônica ou mediante cheques.
Kennedy Braga mantinha o controle político dentro da GEAP?
Toda a direção da GEAP e diversas gerências regionais eram subordinadas, politicamente, ao Kennedy Braga, em especial Brasília, Salvador, Goiânia, Piauí, Fortaleza, dentre outras, inclusive com indicação de seus parentes (genro e sobrinho). Durante todo esse período, ou seja, até março de 2019 Kennedy era o “dono” da GEAP.
É verdade que ele criou um cartel?
Kennedy sempre foi ambicioso e não operava apenas com a Mederi Brasília. Ele criou um verdadeiro cartel no seguimento de planos de saúde de autogestão. Ou pagava a ele uma intermediação ou não recebia e era descredenciado. Passou a dominar a Postal Saúde e posteriormente o plano de saúde do TRF 1ª Região.
Quando você se tornou sócio de Kennedy Braga?
Como disse, saí da Mederi Brasília em maio 2018, mas já havia me tornado sócio formal de Kennedy em outra empresa, a Ampla Distribuidora de Medicamentos LTDA, a qual se tornara a maior distribuidora de medicamentos quimioterápicos (uso oral) do Brasil, e informal em outras tantas.
E aí a relação entre vocês ficou mais próxima com a sociedade?
A confiança era intensa! Passei a transportar dinheiro para ele, guardar, esconder, distribuir e inclusive emprestar conta bancária de empresa minha para que ele movimentasse junto ao Banco Bradesco, agência localizada no Edifício Varig, em Brasília, na Asa Norte (nem sei se o nome permanece o mesmo). Faço aqui uma correção: o único diretor da GEAP que não cedeu aos encantos de Kennedy Braga neste período foi o Fontenele, mas um de meus colaboradores gravou uma bobagem que ele falou sobre médicos numa reunião e demos um jeito de vazar para imprensa e indicado dos médicos. Esse não resistiu 50 dias, salvo engano.
Como se desenvolveu essa sociedade entre você e o Kennedy?
Quando começamos, o Gerente Regional da Geap em Brasília era o Sr. José da Silva Pacheco, pasmem, atual DIRETOR DE RELACIONAMENTO INTERINO da Diretoria Executiva (DIREX) da GEAP.
Como assim?
Pacheco possui relações próximas com o Piauí, assim como Kennedy Braga.
Pacheco, estamos falando de 2017, havia deixado a família no Piauí e não tinha estrutura em Brasília. Kennedy deu essa estrutura para ele. Pagava apartamento e fornecia um carro. Em contrapartida ele fornecia informações sobre os prestadores de serviço de Brasília e executava as ordens dele, ou seja, credenciava, descredenciava e pagava apenas quem o lobista autorizava.
Quais empresas frequentavam o escritório de Kennedy?
Algumas empresas eram frequentadoras assíduas do escritório da QI 13 no Lago Sul como a MedLife (homecare e ambulância), UTI Vida, Quality Home Care, MB Home Care, uma clinica de reabilitação de Taguatinga ou Ceilândia, Empresas de Órteses e Próteses e um Hospital de Ceilândia, além, é claro, da Mederi Brasília. Todas essas empresas pagavam pedágio ao Kennedy Braga.
Após a saída de Pacheco, como ficou o esquema de Kennedy na Geap?
Quando Pacheco saiu da Gerência Regional de Brasília, assumiu o Sr. Alfredo Fitipaldi e aí a roubalheira aumentou. Alfredo passava mais tempo na QI 13 do que na GEAP e tinha liberdade total com os membros da DIREX. Kennedy queria dinheiro de qualquer forma e procurava por todos os meios. Com a minha empresa e com a Quality ele fez a GEAP pagar as glosas dos últimos 5 anos: isso mesmo, retroativo! Também fez a GEAP emprestar para Mederi Brasília, cerca de 2 milhões de reais como adiantamento de faturas.
E o apetite de Kennedy por mais negócios continuou?
Eles não pararam por aí. Me fizeram comprar uma outra empresa de Home Care para
atender pacientes por meio de conta administrativa, ou seja, eu poderia cobrar qualquer preço, pois não havia contrato estabelecendo valores; apenas autorização da GEAP para atender. Começamos com 5 pacientes, depois 10, até atingirmos 20 pacientes mensais.
E quanto o lobista cobrava?
Neste caso Kennedy recebia 50% dos valores faturados (já pedi os extratos bancários).
O mesmo acontecia com a Ampla. Todos os medicamentos quimioterápicos orais eram direcionados para nossa empresa, totalizando um volume mensal superior a 1 milhão de reais por mês. A única diferença é que neste caso as ordens eram da Diretoria Executiva da GEAP.
Por quê a Medlife foi descredenciada? Kennedy teve algo a ver com esse caso?
Em abril de 2018, a mando de Kennedy, Alfredo descredenciou os serviços de ambulância da Medlife e contratou a empresa MedAid Socorro Médico Ltda, de Limeira/SP. Quando sai da Mederi, ou seja, em maio de 2018, passei a trabalhar nesta empresa. Logo na sequência, credenciamos a MedAid como empresa de Home Care e transferimos todos os pacientes da Mederi Brasília para lá e continuamos pagando mensalmente ao senhor Kennedy; agora pela MedAid.
E durou quanto tempo?
Essa situação perdurou até março/abril de 2019. Minha relação com Kennedy era tão próxima que ele era o fiador do imóvel onde a MedAid se estabeleceu e depois cedeu uma casa que ele tinha no Setor de Mansões de Taguatinga para ser sede da mesma
empresa.
…Continua nesta quinta-feira (27/7)
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