Velho conhecido da polícia pelo mesmo crime, o Ferro-Velho do Vilmar, na QE 40 do Guará II, foi flagrado na semana passada com meia tonelada de fios de cobre furtada no Distrito Federal. Dois homens que respondiam pelo negócio – o proprietário está preso por crime de homicídio desde o ano passado – foram presos em flagrante por policiais do 4º Batalhão da Polícia Militar do Guará. O material apreendido está sendo periciado e os suspeitos vão responder pelo crime de receptação de objetos de furto.
O ferro-velho é reincidente de flagrantes na receptação de produtos de furtos, principalmente de cobre e outros metais. É considerado pela Secretaria de Segurança Pública como o maior receptador desse tipo de material no Distrito Federal. Mesmo após a prisão do proprietário há seis meses, o negócio continuou funcionando, tocado por outras pessoas de confiança da família.
Além de fios de cobre, retirados da fiação de alta tensão de energia, o ferro-velho já foi flagrado outras vezes com tampas de bueiro de metal furtadas no Guará e em outras regiões do DF. Em 2022, a filha de Vilmar, Daniela Carmo de Oliveira, do ferro-velho Três Irmãs, também na QE 40, da família, foi presa com uma quantidade de fios de cobre furtada da rede de alta tensão da Neoenergia Distribuição. Vilmar responde também pela acusação de ter matado um morador de rua a socos e pontapés, por ter furtado material de sua loja. A polícia já estava monitorando os ferros velhos na região do Guará por causa do aumento de denúncias de furtos de grelhas de bueiros e fios de cobre na cidade na época, mas não havia ainda conseguido flagrar a receptação do material até a prisão de Daniela.
De acordo com a polícia, o furto de fios de cobre é mais difícil de ser flagrado, porque é praticado geralmente de madrugada no caso das tampas de bueiros, e nas redes subterrâneos nos casos de furtos de cabos. Diferente do furto de grelhas, que geralmente é praticado por moradores de rua e carroceiros, a maior parte dos furtos de cabos é praticada por funcionários de prestadores de serviços às concessionárias, porque são os que melhor conhecem as redes, podem se disfarçar como reparadores de um problema, e tem conhecimento técnico para cortar fios sem risco de choque.
Demanda
incentiva furto
O furto de grelhas e fios não provoca prejuízo somente às concessionárias de serviços ou ao governo. Os apagões provocados por corte de fios deixam a população sem energia por horas, porque a reparação do serviço às vezes é complexa, dependendo da quantidade de fios que é cortada. O prejuízo maior é do comércio que depende da energia para refrigeração dos seus produtos e nem sempre dispõe de geradores próprios.
Os fios de cobre são os mais cobiçados desse mercado paralelo, pelo seu alto valor de demanda e facilidade de transporte.
De acordo com concessionária Neoenergia Brasília, o prejuízo provocado por esse tipo de crime chega a cerca de R$ 3 milhões, em mais de 300 ocorrências em média por ano no Distrito Federal. Segundo a empresa, a maior incidência é no Plano Piloto, seguida de Guará e Ceilândia. O problema é que é um crime difícil de ser combatido, por causa da esperteza dos ladrões, que se disfarçam de técnicos de empresas de manutenção e por isso não chamam a atenção de quem os vê na rua, a dificuldade de serem flagrados nas madrugadas, quando eles atuam, e pela leniência da Justiça (ou melhor, do Código Penal), que não considera esse tipo de furto como crime grave o suficiente para que os ladrões sejam e continuem presos, mesmo quando flagrados.
Além dos ladrões profissionais, principalmente os que já trabalharam nas empresas de manutenção, existem também os ladrões “pés-de-chinelo”, geralmente moradores de rua que cometem o crime para que possam manter a dependência de droga ou bebida. Na ponta, o principal alimentador do crime, estão os receptadores, que viram no mercado do cobre reciclado um negócio lucrativo.
De acordo com dados da PMDF, em 2024 houve um aumento de 26,1% na quantidade de ocorrências em relação ao ano anterior em furtos de cabos no DF.
Entretanto, o aumento desse tipo de furtos não configura falta de ação da segurança pública do Distrito Federal. Pelo contrário, o combate ao furto de cabos é uma das prioridades das polícias Civil e Militar, por orientação da Secretaria de Segurança Pública, mas ainda longe de ser estancado.
Em novembro do ano passado, uma grande operação da Polícia Civil prendeu vários ladrões e receptadores em 21 mandados de prisão e 48 de buscas e apreensões, o principal deles contra o dono do ferro velho na QE 40 do Guará II. Vilmar de Lima Oliveira e seu genro Fabrício Rodrigues de Carvalho foram apontados como os líderes do crime. “A família já tem um histórico de recepção de fios de cobre furtados, mas foram soltos pela Justiça mesmo depois de indiciados pelo mesmo crime”, afirma o delegado da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), Tiago Carvalho. Ele explica que a polícia praticamente sabe quem são os receptadores, mas é necessário o flagrante ou a prova para facilitar à prisão dos responsáveis e a apreensão do material. “O problema é que o cobre é retirado e processado assim que os fios são entregues pelos atravessadores ou ladrões às casas de sucata, o que dificulta a sua rastreabilidade”, completa o delegado.
Quadrilha organizada
De acordo com a Copatri, esquema geralmente é organizado em núcleos. Um desses núcleos é formado por recrutadores dos ladrões, profissionais com conhecimento e experiência em eletricidade, ou moradores de rua, para executar os furtos. Outro núcleo importante é o dos receptadores, que transformam o cobre furtado em matéria-prima comercial.
Para o delegado da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Lourisvaldo Chacha, parte dos furtos de fios de cobre na cidade é praticada por moradores de rua, por causa das pequenas quantidades retiradas de cada vez, enquanto no Plano Piloto ou no Setor de Indústrias (SIA), onde os cabeamentos são robustos, são praticadas por quadrilhas especializadas. “No Guará, os furtos acontecem de madrugada, quando existe pouco movimento das ruas, e são praticadas geralmente por moradores de rua para alimentar o vício da dependência química. Eles atuam em dupla ou trio: enquanto um fica do lado de fora vigiando, quem entra nos bueiros das tubulações corta os fios, sem chamar a atenção”, explica o delegado. “Enquanto não for encontrada uma solução contra os receptadores e não houver mais rigor da Justiça, vamos continuar brincando de gato e rato. A polícia vai continuar combatendo o crime, prendendo os criminosos, mas o comércio não vai acabar enquanto as duas outras pontas não forem resolvidas”, avalia o delegado do Guará.
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