O segurança Damião Benedito de Almeida, 57 anos, foi arrastado pela força da correnteza das águas da chuva para baixo de um carro, durante uma tempestade em Ceilândia, na noite desse sábado (23/11). Ele tentava ajudar o condutor de um veículo também levado pela enxurrada, mas acabou derrubado e só parou debaixo do automóvel.
Damião conta que só escapou da morte graças à solidariedade e à coragem de funcionários de uma lanchonete próxima ao local do incidente, onde um grupo de pessoas testemunhou a cena e formou uma “corrente humana” para resgatar o segurança do alagamento.
“A única coisa em que pensei foi: ‘Chegou meu dia. Vou embora’. Só isso. Não passava outro pensamento na cabeça. Tentei me salvar e não conseguia. Estava difícil a situação, e o carro era muito baixo. Não tinha como eu sair de baixo dele. Então, eu já estava me dando por derrotado”, afirmou ao Metrópoles.
Para Damião, o episódio também serviu como alerta: “Quando você vê uma enchente, não a encare. Pare e espera a chuva passar. Com água não se brinca. Ela pode ser mais violenta do que qualquer coisa”.
Na noite de sábado (16/11), Damião estava no carro com um amigo do trabalho. Diante da enchente, ele decidiu parar o veículo próximo a uma padaria na região.
Ao ver outro automóvel seguir pela pista alagada, o segurança sugeriu que o motorista não seguisse em frente e parasse. Porém, o aviso teria sido ignorado, e as águas começaram a carregar o segundo veículo. “Não pensei duas vezes e fui ajudar. Saí do carro para prestar socorro”, contou.
No entanto, Damião se desequilibrou, caiu e foi para baixo do veículo do segundo motorista. “Até pensei em tentar me salvar, mas estava impossível. Dali não dava para sair, porque eu estava preso debaixo do carro e submerso. Tanto que engoli muita água”, detalhou.
Além do risco de afogamento, o segurança sofreu ferimentos em diversas partes do corpo, principalmente na barriga.
Assista:
Salvo duas vezes
Atordoado pela força das águas e pelo peso do carro, Damião estava fraco e perdia a consciência, quando foi resgatado pelos funcionários de uma lanchonete próxima. “Só vi na hora em que eles pegaram minha mão e me arrastaram. A enxurrada estava tão forte que ainda escapei duas vezes deles. Mas eles foram atrás de mim novamente e me socorreram. Eles foram nota mil. Salvaram minha vida”, agradeceu o segurança.
Damião contou que a região administrativa tem sofrido com enxurradas piores do que as vistas no passado. Para ele, é necessário investir em obras de infraestrutura e drenagem, de modo que episódios semelhantes e possíveis tragédias não aconteçam.
Funcionário de um fast-food na cidade há 28 anos, o segurança acrescentou que os donos do estabelecimento têm prestado o apoio necessário à recuperação dele, que está de folga desde o ocorrido.
Diretor de recursos humanos do restaurante, Maylson Vieira de Sousa, 30, descreveu Damião como um “funcionário modelo”. “Graças a Deus, ele está bem. Ele é um cara muito bom, que sempre ajuda as pessoas. Para qualquer coisa de que precisar, pode contar com ele. É uma pessoa excepcional”, descreveu.
O gestor também cobrou melhorias na infraestrutura para drenagem da precipitação. “Toda vez que chove é esse mesmo transtorno. Qualquer chuvinha alaga tudo. Creio que precisamos de bocas de lobo para levar as águas. É comum a água invadir casas e comércios aqui pela região”, completou Maylson.