IVB espera que o governo assine nos próximos dias contrato que permitirá transformação do laboratório em polo produtor de vacinas e que garantirá fornecimento ao Brasil da ZYCOV-D, que resiste em temperatura ambiente e pode ser atualizada contra novas cepas
Depois de assinar contrato que prevê sua transformação em um moderno polo desenvolvedor e produtor de vacinas, o Instituto Vital Brazil (IVB) aguarda o sinal verde do Ministério da Saúde para um acordo que garante o fornecimento ao país de 100 milhões de doses de uma inovadora vacina contra a Covid-19, com entrega a partir do próximo mês.
Laboratório oficial do estado do Rio de Janeiro, o centenário Vital Brazil firmou neste mês uma parceria com a multinacional indiana Zydus Cadila, uma das maiores farmacêuticas do mundo, para trazer ao Brasil a ZYCOV-D, vacina de DNA que resiste em temperatura ambiente, sem necessidade de freezers para o transporte e o armazenamento .
Além de permitir o fornecimento ao Brasil de 100 milhões de doses nos próximos 12 meses, o acordo prevê transferência de tecnologia, formação de pessoal técnico e construção de uma fábrica de padrão internacional no IVB para a produção de imunizantes, incluindo a ZYCOV-D .
No fim de fevereiro, a direção do IVB analisou os detalhes técnicos da fábrica. Será uma planta moderna, com capacidade de produção de 500 milhões de doses anuais. A fábrica gerará empregos qualificados sem onerar os cofres públicos. Será financiada pela venda da ZYCOV-D no Brasil.
Desde a assinatura do acordo com a Zydus Cadila, o Vital Brazil vem negociando com o ministro da Saúde Eduardo Pazuello a compra da vacina de DNA, que tem entre suas vantagens a possibilidade de rápida atualização para combater as novas cepas do coronavírusque estão aparecendo em várias partes do mundo. As atualizações serão mensais.
O contrato de encomenda tecnológica com o Ministério, por meio do qual as primeiras 5 milhões de doses seriam entregues já em abril, está em fase final de negociação. O Instituto Vital Brazil espera que a assinatura ocorra nos próximos dias, o que garantiria a construção da nova fábrica de imunizantes.
Recentemente, em audiência no Congresso Nacional, Pazuello destacou o IVB como um exemplo de laboratório brasileiro que será remodelado para fabricar vacinas contra o coronavírus no país. A previsão é que o instituto possa produzir a ZYCOV-D localmente no prazo de três anos.
A partir da assinatura do contrato com o Ministério da Saúde, o Instituto Vital Brasil protocolará o pedido de uso emergencial da ZYCOV-D junto à Anvisa, o que atestará a segurança e a eficácia do imunizante.
A fase 3 dos estudos clínicos, realizada na Índia com 30 mil voluntários, estará concluída em 28 de março. Os resultados serão repassados na sequência às autoridades brasileiras.
A gigante farmacêutica indiana – com 70 anos de história, 25 mil funcionários e 36 fábricas espalhadas pelo mundo – já está produzindo a ZYCOV-D. Antes de iniciada a fabricação local pelo IVB, a vacina para o Brasil virá da própria Índia ou de laboratórios associados na Europa, oferecendo mais uma alternativa para imunizar a população brasileira contra o coronavírus.
A tecnologia de DNA desenvolvida pela farmacêutica indiana oferece vantagens para países com dificuldades de infraestrutura e poderia ser uma importante alternativa para ajudar o Brasil no combate à Covid. A ZYCOV-D não depende de freezers para o transporte e o armazenamento porque mantém-se estável em temperatura ambiente durante meses.
Nas fases 1 e 2 dos estudos clínicos, o imunizante mostrou que é seguro e oferece uma robusta resposta imune. Recentemente, pesquisadores do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), vinculado ao Ministério da Economia do Brasil, publicaram um estudo sobre as vacinas gênicas para a Covid-19, considerando que “as vacinas de DNA sintéticas representam as terapias de nova geração”.
O estudo do governo brasileiro analisou quatro farmacêuticas de destaque e avaliou a Zydus Cadila como detentora de “uma ampla gama de recursos no desenvolvimento e fabricação de vacinas virais, toxóides, polissacarídeos, conjugados e outras vacinas de subunidade”.
A inovadora vacina de DNA foi desenhada no Centro de Tecnologia de Vacinas da Zydus Cadila, que mantém unidades na Índia e na Itália e já desenvolveu vários imunizantes. Há pouco mais de uma década, quando irrompeu a pandemia do vírus H1N1, o laboratório indiano foi o terceiro do mundo a produzir uma vacina.
Um dos trunfos da vacina de DNA é que ela não necessita de seringas com agulha para inoculação – equipamento que está em escassez no mercado. A ZYCOV-D pode ser inoculada de forma transcutânea, praticamente indolor, por meio de um dispositivo injetor. O laboratório indiano assegurou que fornecerá os injetores ou as seringas necessários. No caso dos injetores, há uma parceria com o fabricante PharmaJet (EUA), líder do setor.
O que é uma vacina de DNA
• Esse tipo de imunizante não é produzido a partir de um agente infeccioso, como ocorre em outras vacinas, mas de uma sequência sintética de DNA.
• A vacina é fundamentada em plataforma de DNA, que codifica o antígeno do vírus, induzindo resposta imune do organismo.
• A vacina de DNA utiliza uma tecnologia semelhante à das vacinas de RNA já aprovadas para combater a Covid-19 (dos laboratórios BioNTech /Pfizer e Moderna).
• Nas vacinas já aprovadas, a pessoa recebe o RNA do vírus, que gera a resposta imune. As vacinas de DNA começam um passo antes. Elas consistem de um DNA sintético que, dentro da célula, vai levar à transcrição do RNA desejado.
Vantagens da vacina de DNA
• É estável em temperatura ambiente, o que torna mais fácil o transporte e o armazenamento – e menores as perdas. A ZYCOV-D permanece estável por três meses em temperatura de 23 graus. Para uso prolongado, basta uma infraestrutura com 2 a 8 graus.
• Pode ser atualizada conforme as mutações do vírus. No caso da ZYCOV-D, essas atualizações serão mensais.
• A fabricação em larga escala é fácil e rápida. A Zydus Cadila afirma que pode entregar até 150 milhões de doses em 2021.
• Não gera risco de infecção, porque não é produzida com agente infeccioso.