“Mulher de alegria e esperança, esperta e inteligente”. É assim que o consultor empresarial Wesley Neves, 37 anos, define a mãe, Leonídia Francisca das Neves, 55. A mulher foi vítima de feminicídio no último dia 27 de julho, em Formosa (GO), e o companheiro dela, Leonan Alves dos Santos, 43, é o autor do crime.
O caso foi confirmado pela Polícia Civil de Goiás (PCGO) e relatado pelo Metrópoles nessa segunda-feira (5/8). Segundo as investigações, vítima e autor tinham um relacionamento conturbado há cerca de dois anos. À reportagem, Wesley conta que a mãe evitava comentar sobre o caso de parte dos filhos. “Ela tinha medo de a gente saber o que estava acontecendo e ir atrás dele”, diz. “Ela nunca deu muita liberdade para a gente se meter na vida dela, mas eu acho que ela jamais imaginaria que fosse terminar assim.”
Nascida e criada em Formosa (GO), Leonídia trabalhou por muito tempo com colheita de feijão. Há cerca de dois anos, a mulher sofreu dois acidentes vasculares cerebrais e um problema de tireoide. Desde então, fabricava tapetes artesanais em casa. “Ela conseguiu tratar a questão da tireoide no início deste ano e estava muito feliz”, relembra o filho.
Wesley descreve a perda como um “buraco deixado na família”. “Minha mãe era meu norte nessa Terra. E de repente, esse norte foi simplesmente tirado de mim e dos meus familiares.”
Leonídia querida pela vizinhança do bairro Bela Vista, onde morava, e sempre buscava ajudar a quem precisava, segundo Wesley. “Ela sempre fazia paneladas e paneladas de comida para quem quisesse, quem chegasse. Tirou diversas pessoas da rua, sustentou filhos de outras pessoas, cuidou de famílias que não tinham para onde ir… Como alguém pode ter matado a minha mãe se ela não tinha inimigo nenhum?! É um absurdo o que aconteceu”, cita o consultor empresarial.
A mulher deixa dez filhos, 13 netos e sete bisnetos. “Minha mãe era daquelas típicas mulheres que criou um monte de filhos sozinha sem nunca ter deixado faltar nada em casa. Todos os dias a gente conversava, e eu sempre terminava a ligação com um: ‘Te amo, mãe, bênção’. Se eu soubesse, teria aproveitado ainda mais a companhia dela.”
“Quero que as pessoas entendam que essa morte não é só um número. Por trás dessa tragédia, tem uma pessoa que era muito, muito amada. É uma dor sem explicação. Eu espero que esse cara [o autor do crime] apodreça na cadeia. Ele é agressivo, manipulador e frio, e já deveria estar preso há muito tempo.”
Casos no DF em 2024
A morte de Leonídia no Entorno do DF joga luz às ocorrências de feminicídio na capital do país em 2024. Nessa terça-feira (6/8), foi registrado o nono caso: Rosimeire Rosa Campos, 46 anos, foi morta a facadas pelo ex-marido, Anderson Cerqueira, 45. O autor tirou a própria vida em seguida. O filho de 13 anos do casal foi o primeiro a ver os corpos dos pais estirados no chão, na sala de casa, na Ponte Alta Norte, no Gama (DF).
A primeira ocorrência de feminicídio do ano ocorreu em janeiro, também no Gama. Tainara Kellen, 26 anos, foi morta com pelo menos nove tiros em frente ao salão de beleza onde trabalhava, na quadra 26 do Setor Leste. O autor é o ex-marido, Wesly Denny da Silva Melo, 29. A filha do casal, de 5 anos, viu toda a cena e chegou a comentar com uma funcionária do salão que “ele deu ‘pou pou’ na minha mãe”.
Exceto o caso de Milena Rodrigues Silva, que ainda requer esclarecimentos por parte das autoridades, todas as mortes por feminicídio deste ano foram causadas ou motivadas por companheiros ou ex-companheiros das mulheres, que demonstravam ciúmes e não aceitavam o fim do relacionamento.
Outro ponto em comum é que cinco das nove vítimas partiram deixando filhos menores de idade. Érica Maria de Jesus, 27 anos, morta a tiros pelo próprio ex-cunhado na quadra 20 do Paranoá, estava grávida.
Relembre as vítimas de feminicídio em 2024:
Tainara Kellen Mesquita da Silva, 26 anos
Antônia Maria da Silva Carvalho, 39 anos
Milena Rodrigues da Silva, 26 anos
Simone Santos Ribeiro, 42 anos
Daniella di Lorena Pelaes de Almeida, 46 anos
Jainia Delfina de Assis, 42 anos
Rosimeire Rosa Campos, 46 anos