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Ministério da Agricultura afasta 33 funcionários

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

Trinta e três funcionários do Ministério da Agricultura foram afastados por causa das investigações. O secretário-executivo do ministério disse que a população pode confiar no sistema de vigilância da qualidade dos produtos e no selo SIF.

Agentes da Polícia Federal foram ao Ministério da Agricultura logo cedo e recolheram documentos.

O Brasil é o segundo maior produtor de carne do mundo, só perde para os Estados Unidos. É o maior exportador mundial de carne bovina.

Em 2016, o Brasil exportou para 150 países. Os que mais compram a carne brasileira: China, Hong Kong, Arábia Saudita, Rússia e Japão. O total exportado em 2016 foi de US$ 14 bilhões entre frango, carne bovina e suína.

“Agora é hora de tentar remediar as perdas, garantindo que a gente vai tomar ações necessárias para melhorar essa fiscalização, tentando minimizar o montante de carne que vem tendo problemas em relação ao total das nossas exportações que é gigantesco. Esse problema certamente não afetou toda essa produção. É o momento de identificar, isolar o problema e tentar garantir o mercado”, disse Juliano Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais da UnB.

A Confederação da Agricultura e Pecuária defendeu em nota que os fatos envolvendo frigoríficos e fiscais agropecuários sejam apurados com rigor e que, se comprovados, possam levar à punição dos envolvidos.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, cancelou uma licença de dez dias do cargo. Na segunda-feira (20), ele vai se reunir com o representante da União Europeia que pediu o encontro. Em Cuiabá, ele reconheceu o estrago, mas tratou como um fato isolado.

“São 33 funcionários que estão sendo acusados, estão sendo apontados como responsáveis por essas fraudes, num total de 11 mil funcionários que nós temos no Ministério na Agricultura. É um número muito pequeno, mas que causa um estrago bastante grande à imagem da agricultura, da pecuária brasileira no exterior e traz intranquilidade aos consumidores brasileiros também”, disse.

Os 33 fiscais envolvidos no esquema investigado pela Polícia Federal foram afastados. Eles são suspeitos de fiscalização irregular de frigoríficos e de liberar licenças fora dos padrões sanitários.

À tarde, numa longa entrevista, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, deu explicações sobre os impactos da operação.

O secretário começou afirmando que, desde a posse do atual governo, mudanças foram feitas no ministério para evitar esse tipo de fraude. Ele disse que o sistema de fiscalização é robusto.

“Primeiro, eu preciso aqui reforçar o seguinte, o sistema de vigilância sanitária do Brasil hoje é um sistema consolidado, robusto e aprovado por inspeções internacionais, ou seja, o nosso sistema funciona. Agora, nenhum sistema está livre de má índole”, disse.

E disse que apenas três unidades de duas empresas foram interditadas.

Repórter: O senhor disse que são só quatro grupos econômicos e 21 estabelecimentos. Mas não são os quatro maiores?

Novacki: O que hoje temos que deixar claro, quando se fala de um grupo econômico, não quer dizer que todas as unidades desse grupo têm problema. É que na verdade é o que acontece: são três. A BRF da unidade de Mineiros, Goiás, aves, interditada. Peccin Agroindustrial, Jaguará do Sul, Canta Catarina, e Curitiba, Paraná. Esses são embutidos, salsicha e mortadela. Existe a suspeita desses demais estabelecimentos de frigoríficos de carne e de ração animais. Desses três, carnes de aves, mortadelas e salsichas. BRF unidade de Mineiros é frango; e Peccin Agroindustrial é de embutidos. Está sendo recolhido, parou a produção e a empresa está interditada”, disse Eumar Novacki.

E afirmou que outros 21 frigoríficos serão investigados:

“O que vamos começar na segunda é uma força-tarefa mapeando todas as unidades que estão sob suspeita”.

O Jornal Nacional apurou que a Peccin Agroindustrial nas unidades de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, e Curitiba, produz embutidos como salsicha, linguiça e presunto com carnes de aves, bovina e suína da marca Italli.

A outra empresa interditada, a BRF, em Mineiros, Goiás, faz produtos usando frango e peru como matéria-prima, e é detentora das marcas Sadia e Perdigão. Mas a empresa não esclareceu quais produtos e de que marca são produzidos nessa fábrica.

O secretário disse que o consumidor pode confiar no selo SIF – Serviço de Inspeção Federal – nos produtos.

“O selo SIF, quando se encontra nos produtos comestíveis, significa que a população pode ter tranquilidade de estar consumindo um produto atestado. Se houver incongruências, nós estamos prontos para agir e ele precisa saber que o ministério tem essa disposição de fazê-lo”, disse Eumar Novacki.

Apesar disso, o secretário disse que conta com a ajuda da população no dia a dia.

“Quando você pega uma carne na prateleira do supermercado, essa carne apresenta algum aspecto que não está de acordo, ou seja, o tipo, a aparência, ou o cheiro, automaticamente ao acionar o sistema de vigilância, o Ministério da Agricultura toma todas as providências e de modo muito energético. Eu tenho certeza que nenhuma empresa séria quer passar por um processo desse mais apurado de fiscalização porque o dano à imagem é irreparável e uma empresa, uma vez detectada com produto irregular, dificilmente reconquista de novo essa fatia do mercado”.

Eumar Novacki disse que não vai mudar os hábitos dele.

“Eu vou comprar, eu vou comprar carne naturalmente e obviamente eu vou olhar e vou ver se tem alguma irregularidade”.

As respostas

A JBS declarou que a qualidade é a sua maior prioridade e a razão de ter se transformado na maior empresa de proteína do mundo. Acrescentou que exporta para mais de 150 países como Estados Unidos, Alemanha e Japão. E que é auditada por missões sanitárias internacionais e por clientes.

A empresa afirmou que, no Brasil, há dois mil profissionais dedicados exclusivamente a garantir a qualidade dos produtos JBS e das marcas Friboi e Seara. E que 70 mil funcionários têm treinamento obrigatório nessa área todos os anos.

A JBS também declarou que, no despacho da Justiça, não há menção a irregularidades da empresa, que nenhuma fábrica dela foi interditada e que nenhum executivo da companhia foi alvo de medidas judiciais, ao contrário do que chegou a ser divulgado. A empresa acrescentou que um funcionário da unidade de Lapa, no Paraná, foi citado na investigação, mas afirmou que não compactua com desvios de conduta e que tomará as medidas cabíveis.

Por fim, a JBS declarou que reforça o comprometimento com a qualidade de seus produtos e que reitera seu compromisso com o aprimoramento das práticas sanitárias.

A BRF declarou que está colaborando com as autoridades no esclarecimento dos fatos. Afirmou que cumpre normas e regulamentos referentes à produção e à comercialização de seus produtos, que possui rigorosos processos e controles. E que não compactua com práticas ilícitas.

A empresa acrescentou que assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e que garante que não há riscos para os consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.

A BRF também reiterou que a gravação em que funcionários da empresa se referem a papelão numa de suas fábricas é um claro e gravíssimo erro da Polícia Federal, pois, segundo a nota enviada pela BRF ao Jornal Nacional, o funcionário estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. E que isso fica claro quando ele disse que vai ver se consegue colocar em papelão, pois esse produto é normalmente embalado em plástico.

A Central de Carnes Paranaense, dona das marcas Master Carnes, Novilho Nobre e Souza Ramos, declarou que acredita que a investigação é de suma importância para a concorrência leal no mercado e que continuará colaborando com as investigações. E afirmou que seus produtos seguem à risca as exigências de qualidade.

O Grupo Argus também declarou que acredita na investigação e está à disposição das autoridades. E que obedece às observações sanitárias e de qualidade determinadas. Afirmou ainda que sustenta de maneira irrestrita instalações plenamente administradas pelo Sistema de Inspeção Federal e seus técnicos, sem interferir nem solicitar favorecimentos.

O frigorífico Rainha da Paz negou envolvimento em quaisquer atos ilícitos e disse que está colaborando com as investigações. A empresa afirmou que mantém rigoroso controle de qualidade e de higiene e que adquire somente matérias-primas selecionadas e com procedência. Declarou ainda que repudia veementemente a comercialização de produtos impróprios, alterados e inadequados para o consumo.

O frigorífico Larissa não quis se manifestar. E o JN não conseguiu contato com o Peccin e os outros frigoríficos citados.

A Associação Brasileira de Proteína Animal, que representa os frigoríficos brasileiros, declarou que o Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade e pelo status sanitário de seus produtos. Afirmou que falhas que venham a ser comprovadas são exceção em um modelo que é referência para o mundo. A associação acrescentou que condena quaisquer práticas comprovadas que impactem negativamente o consumidor do Brasil e do exterior. E que todos os problemas detectados vão ser rapidamente corrigidos pelo setor, intensificando os cuidados em prol da qualidade.

A defesa de Roney Nogueira afirmou que o cliente está fora do Brasil, mas que está providenciando o retorno e que tem interesse em colaborar com as investigações. O advogado de Dinis Lourenço disse que a suspeita contra ele não tem comprovação, e que não se vai se sustentar depois do depoimento dele. O JN não conseguiu contato com as defesas de Flávio Cassou, Maria do Rocio e Daniel Gonçalves Filho.

O PMDB declarou que desconhece o teor da investigação e que não autoriza ninguém a falar em nome do partido. O PP também afirmou que desconhece o teor das denúncias. E acrescentou que apoia uma investigação minuciosa e o esclarecimento rápido dos fatos.

A empresa Peccin Agroindustrial citada pelo secretário-executivo do Ministério da Agricultura tem o mesmo nome de outra empresa que atua no mercado de doces e chocolates: a Peccin Sociedade Anônima, do Rio Grande do Sul, que não foi afetada nem está sendo investigada pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal.

Fonte: globo.com

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