O incêndio que destruiu quase 50% da Floresta Nacional (Flona) de Brasília durante cinco dias causou espanto na população do Distrito Federal devido às altas chamas e à fumaça que encobriu o céu da capital, tão elogiado Brasil afora. Mas, para além do susto, o incidente preocupa por causa da importância da Flona para o DF, uma vez que a área de proteção ambiental guarda nascentes fundamentais e fauna e flora riquíssimas.
A Flona tem três nascentes principais, que formam dois cursos d’água: o Ribeirão das Pedras e o Córrego dos Currais. Eles se unem e correm para a bacia do Rio Descoberto, que abastece 70% do DF.
Além disso, a Flona resguarda a cadeia alimentar do Cerrado completa, com produtores (organismos que produzem seu próprio alimento, como plantas, por exemplo); consumidores (animais que se alimentam de outros seres vivos) e decompositores (espécies que degradam a matéria orgânica morta e resíduos, como fungos e bactérias).
A diversidade de bichos que passeiam pela Floresta Nacional é imensa, aponta o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Temos onça, anta, veado, tamanduá-bandeira, macaco, tatu e mais de 200 espécies de pássaros catalogadas”, cita o órgão.
Dentre algumas espécies ameaçadas de extinção, é possível citar o tatu-canastra, o tamanduá-bandeira, onça-parda, o lobo-guará e a raposa-do-campo.
Quanto à flora, a Floresta Nacional conta com espécies nativas do Cerrado, mas também ostenta espécies exóticas, como pinheiros e eucaliptos, que não são originários do DF. O palmito Euterpe edulis e o cangalheiro Lamanonia brasiliensis são algumas das espécies ameaçadas de extinção.
Voluntária na Flona, a estudante Juliana Mendes, 23 anos, diz acreditar que a importância do local “vai muito além da conservação ambiental”.
“A Flona é um patrimônio natural que desempenha um papel crucial na preservação do Cerrado ao promover a biodiversidade e proteger as nascentes de água que abastecem a região”, comenta.
“A Flona é um espaço que proporciona educação ambiental, recreação e turismo sustentável, conecta a população com a natureza e fortalece a conscientização sobre a necessidade de proteger nossos recursos naturais.”
A Floresta Nacional dispõe de 5.640 hectares (ha). Antes de 2022, eram 9,3 mil ha. Uma lei, porém, diminuiu a área total em cerca de 40% para a regularização urbana de dois assentamentos, o 26 de Setembro e o Maranata.
Antes do decreto de 2022, a unidade de conservação era dividida entre quatro glebas, as Flonas 1, 2, 3 e 4 A medida sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) desativou as Flonas 2 e 3. A área da Flona 1 subiu de 3.353,18 ha para 3.753 ha, e a área 4 caiu de 1.925,61 para 1.887 ha.
Criada em 1999, a Flona completou 25 anos em junho deste ano. Além das espécies e das nascentes, o parque guarda o Circuito Flona, a maior trilha de Mountain Bike sinalizada em uma unidade de conservação do país.
45% da área queimada
O incêndio que atingiu a Flona na última semana destruiu 2.586 hectares, equivalente a 45,85% da unidade de conservação federal, configurando o pior incêndio no local nos últimos 10 anos, de acordo com o ICMBio.
As chamas começaram na terça (3/9) foram controladas cerca de 36 horas depois. Focos isolados, porém, permaneceram no local, e um incidente foi registrado na quinta (5/9) mais à margem da Floresta, próximo à DF-001.
Foram realizadas várias ações para combater o incêndio na Flona ainda nesse sábado (7/9). A equipe começou a sinalização e o isolamento das entradas da floresta.
Ao todo, 54 árvores com risco iminente de queda foram cortadas e galhos foram removidos das vias para garantir a segurança e o acesso das equipes.
Além disso, foram realizadas operações de monitoramento e resfriamento dos pontos quentes nas duas nascentes com o uso de água. A situação continuou sendo monitorada, e a extinção do incêndio foi declarada ao final do dia.
No âmbito do resgate e apoio à fauna, foram realizadas operações durante a manhã e a tarde que resultaram no salvamento de um filhote de passarinho. Também foram fornecidos alimentos e água para a fauna local, com o objetivo de mitigar os efeitos do incêndio sobre a vida selvagem.
O trabalho de combate conta com homens do CBMDF, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Jardim Botânico de Brasília, Zoológico de Brasília e da Polícia Militar do DF (PMDF).
A Polícia Federal (PF) investiga as causas do incêndio. O ICMBio suspeita de que uma ação criminosa tenha dado início às chamas. Três homens foram vistos no local onde o fogo começou. Eles ainda não foram identificados.