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Todos os dias casos de agressões físicas e assassinatos de mulheres por seus companheiros estampam o noticiário policial. Recentemente, um deles ganhou grande repercussão e trouxe à tona a discussão sobre a urgência de se combater essa realidade no Brasil: a fisioculturista Renata Muggiati caiu da janela do apartamento onde morava, no 31ºandar, em Curitiba. O laudo necroscópico apontou o namorado dela como o principal suspeito do crime.
Para a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, a violência doméstica contra mulheres é um problema de ordem cultural e independe da classe social dos envolvidos. Nadine afirma que, apesar de a lei estar do lado das vítimas, elas têm medo de fazer a denúncia. Apenas uma em cada dez mulheres agredidas relata a violência às autoridades competentes. As outras nove sofrem caladas.
— A primeira questão é que a pessoa que está sofrendo saiba que a violência não é normal. Tem que buscar ajuda. Tem que denunciar. As pessoas ficam com vergonha, mas é um crime e a lei está do lado delas.
Mais de 51% das denúncias sobre algum tipo de violência contra mulheres que chegaram à Central de Atendimento da Secretaria de Políticas para as Mulheres no primeiro semestre de 2015 tratavam de violência física. Mais de 59% das vítimas disseram que os filhos presenciam as agressões (as denúncias devem ser feitas pelo telefone 180).
Nadine avalia que esses números são sintomas da cultura machista que predomina entre os brasileiros. Segundo ela, 4.500 mulheres são mortas todos os anos no País, o que indica que ser mulher por aqui já é um fator de risco.
— São relações onde os homens têm a ideia de que as mulheres não são iguais. As pessoas têm uma ideia estereotipada do que é ser homem e do que é ser mulher. É importante que os problemas sejam resolvidos no diálogo.
Mulheres em relacionamentos abusivos nem sempre percebem a que ponto os companheiros podem chegar. Além de Renata Muggiati, outros dois casos recentes ilustram o cenário apontado pela representante da ONU.
Em agosto, Gisele Santos teve suas mãos decepadas depois de decidir que queria terminar o relacionamento com o agressor. No mesmo mês, a empresária Halyne Elias fraturou o tornozelo, a mão, a bacia e o rosto depois de cair do segundo andar do prédio onde morava com o marido que a agredia constantemente.
E elas não estão sozinhas. São várias as Renatas, Giseles e Halynes que sofrem todos os dias. Algumas delas sobrevivem para contar suas histórias. Outras perdem a vida antes de conseguir sair dos relacionamentos abusivos.
Nas denúncias que chegaram à Secretaria, mais de 31% das vítimas perceberam risco de feminicídio — quando uma pessoa mata a outra pelo fato de ela ser mulher. Esse é um medo que a maioria das mulheres que sofre agressões constantes enfrenta e, exatamente por isso, tende a escolher o silêncio.
Para reverter essa realidade, Nadine acredita que há uma série de mudanças a serem construídas e uma delas é o engajamento dos homens na luta por igualdade ao lado das mulheres.
— A luta tem que estar atuando em todos os níveis da sociedade. [A agressão] não é brincadeira. É uma verdade.
Mulheres deficientes
A presidente da ONG Essas Mulheres, Marcia Gori, diz que mulheres com deficiência física são duas vezes mais vítimas de abusos dos companheiros do que as outras. Segundo ela, isso acontece porque, geralmente, os agressores são também os cuidadores daquelas mulheres. Como elas sentem que vão ficar desamparadas, não fazem a denúncia.
— Como vão cuidar dela depois? Então ela vai aguentando. Mas esse silêncio precisa ser quebrado. Quando a mulher com deficiência chega a denunciar, é porque ela não está aguentando mais.
Ela diz também que é importante que essas mulheres tenham autonomia e autoestima.