Presente dado a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1989, a caneta é de modelo criado em 2002. Ao custo atual de R$ 5.000, o objeto foi o presente mais “em conta” que o funcionário público Fernando Menezes encontrou numa loja de Picos, cidade de 78 mil habitantes no interior do Piauí. Menezes, que em outras ocasiões, já tinha presenteado o petista com um boné, uma camisa e uma cachaça de manga –decidiu por uma Montblanc (duas, a outra guardou para ele). Mas o presente sumiu.
Mais de três décadas depois, a caneta, que foi entregue ao lado da Igreja de São Benedito, apareceu em 2022. Mesmo sendo o objeto mais barato da loja da pequena cidade piauiense, a esferográfica resistiu ao tempo e foi protagonista da posse do presidente do Brasil.
A história parece, no mínimo, confusa. Mas é o que sustentam os dois personagens envolvidos no “causo”, Lula e Menezes.
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No primeiro ato como presidente em seu terceiro mandato, no último domingo (1º), Lula discursou e relembrou a história do presente esquecido em outras cerimônias presidenciais. A mesma história já havia sido contada em 2010, quando ele visitou uma fábrica de papel na cidade de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul.
“Em 2002, eu ganhei, mas esqueci minha caneta e assinei com a do senador Ramez Tebet. Em 2006, assinei com a do Senado”, falou Lula ao inaugurar o terceiro volume do termo de posse presidencial.
Dessa vez, Lula disse que encontrou a caneta e que homenagearia o povo e o estado do Piauí. Na sequência, apresentou o item da coleção Montblanc Writers, dedicada ao escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, autor de “O Grande Gatsby”, entre outros.
A Montblanc comprada em uma loja que sequer existe mais pertence a uma edição limitada e é dedicada a colecionadores de canetas ou amantes da literatura. Atualmente, o item pode ser encontrado em grandes casas de leilões, segundo consultores da marca.
Com a primeira loja própria no Brasil em 1995, a Montblanc chegou a comercializar por aqui a caneta de edição limitada. Consultores explicaram que por se tratar de uma edição exclusiva, uma vez esgotada, a caneta não é relançada, “o que valoriza ainda mais o preço”.
A durabilidade de canetas esferográficas varia de acordo com o uso e condições de armazenamento. Se bem guardada, pode resistir ao lapso de décadas, segundo fontes consultadas.
Mas além da conservação, só quem já se mudou de casa sabe a confusão que é guardar itens pequenos e como é perder itens nas caixas e mais caixas de papelão que se acumulam e transitam entre a casa velha e a nova.
Nos últimos anos, Lula se mudou para o Palácio Planalto, em Brasília, enquanto morava em São Bernardo do Campo (SP). Depois disso, passou um tempo preso, antes de ter as condenações anuladas e deixar a cidade do ABC Paulista rumo ao bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
O responsável pelo presente
Fernando Menezes, que hoje tem 68 anos, garante que a caneta apresentada é a mesma que deu ao presidente, sem antes deixar de se esquecer que também entregou ao petista uma água mineral, pois fazia muito calor naquele dia.
“Quando eu vi, eu estava em frente à televisão. [Pensei] ‘Oh meu Deus, foi a caneta que eu dei pro Lula!’ Fui para cama, me deitei e não consegui me levantar porque eu não acreditava que aquela caneta era a caneta que eu tinha dado ao presidente”, explica.
A caneta foi comprada em um comércio que não existe mais, segundo Menezes, mas ele conta que mesmo sem lembrar o preço pago, comprou a caneta mais barata que tinha.
“O dono do comércio me chamou e eu vi as canetas que nunca tinha visto na vida. Eu não lembro [o preço]. Era a caneta mais barata que tinha. Era uma época muito difícil para gente. A fome dominava”, lembra.
Respostas
A CNN procurou a assessoria do presidente Lula e também pediu informações da caneta da posse à equipe da transição, mas ninguém comentou o caso.
Via assessoria de imprensa, a Montblanc diz que a caneta usada por Lula “aparentemente, é uma caneta da coleção Montblanc Writers, dedicada aos grandes nomes da literatura mundial”, mas que não tem como confirmar a autenticidade do item.
Este conteúdo foi originalmente publicado em O mistério da caneta da posse de Lula no site CNN Brasil.