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Projeto promove educação antirracista em escolas da rede pública

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

Uma proposta pedagógica que transforma a vida de estudantes, professores e fotógrafos voluntários em escolas públicas do Distrito Federal. Este é o projeto Crespos & Cacheados – pretos, pardos e indígenas, que realizou, no último sábado (28), um ensaio fotográfico com os alunos do Centro de Ensino Médio (CEM) 03 de Taguatinga. Neste sábado (5), o projeto será no CEM 02 de Ceilândia. O ensaio também passou pelo Centro Interescolar de Línguas (CIL) do Recanto das Emas, coordenado pela professora de espanhol Amanda de Paula.

Ao todo, 27 estudantes da unidade foram convidados a participar do ensaio fotográfico, no qual os homens foram maioria pela primeira vez, com 17 participantes. As fotos serão exibidas em uma exposição no mês de novembro, no qual se comemora o Dia da Consciência Negra.

A sessão de fotos dos alunos do CEM 03 de Taguatinga foi realizada por fotógrafos voluntários | Fotos: Jotta Casttro/ SEEDF

O projeto faz parte do letramento racial e da educação antirracista de professores e estudantes, a partir de uma ideia que surgiu de maneira orgânica no CEM 02 de Ceilândia, em 2012, com a professora de sociologia Regina Cotrim.

“O objetivo é valorizar a beleza negra e indígena em uma sessão de fotos, realizada pelo fotógrafo profissional Carlos Terrana, junto com outros seis fotógrafos voluntários”, explicou a professora idealizadora do projeto.

Autoestima

Regina relembrou como foi que surgiu a ideia de criar o projeto do ensaio fotográfico Crespos & Cacheados. Em 2012, o CEM 02 de Ceilândia recebeu um grupo de estudantes de vários países da África, com o projeto África na Escola. Eles fizeram uma apresentação para mostrar a cultura africana, desmistificando preconceitos e promoveram um desfile. A professora conta que uma aluna desfilou com o cabelo black, e todos ficaram encantados.

Projeto surgiu de maneira orgânica com a professora de sociologia Regina Cotrim

“Foi quando tive o insight e pensei em trabalhar a autoestima dos nossos alunos, para aceitar a beleza natural. No ano seguinte, 2013, fiz um pequeno ensaio fotográfico e percebi que era por meio da imagem que a gente iria começar a promover a valorização e a representatividade da beleza negra”, explicou Regina.

Desde então, já foram muitos ensaios e histórias de transformação pessoal. “Meninos e meninas que ainda tinham vergonha e se sentiam oprimidos começaram a se empoderar a partir dessas fotos. Viraram multiplicadores em casa, com a família, com os amigos. É também uma questão de representatividade”, concluiu a educadora.

Transformação

Laís Santos: “Além das fotos, os professores conversam com a gente sobre a educação antirracista e o combate à discriminação. Sabemos dos nossos direitos e como nos posicionar diante de ofensas e atitudes racistas”

A estudante Laís Santos, 18 anos, participou do ensaio. “Eu vi as fotos do ano passado, e achei o máximo. Além das fotos, os professores conversam com a gente sobre a educação antirracista e o combate à discriminação. Sabemos dos nossos direitos e como nos posicionar diante de ofensas e atitudes racistas”, contou.

Nas aulas do projeto, os estudantes são estimulados a contar por quais situações de racismo eles passam no dia a dia. “Falamos sobre tudo desde a primeira aula. Foi muito impactante pra mim porque eu nunca tinha falado isso pra ninguém, então chorei e me libertei. Descobri que outros colegas passam pelo mesmo, e a gente se sente acolhido”, comentou Laís.

A participante disse que hoje se sente em paz com a própria identidade. “O projeto foi a chave, o empurrão necessário, e agora eu tenho mais autoestima. Eu adoro o meu cabelo do jeito que ele é, e uso ele de várias formas. Isso me deixa muito mais feliz e realizada comigo mesma”, celebrou.

Representatividade e inspiração

“O projeto foi a maneira de eu me aceitar como a única mulher preta de cabelo crespo da minha família. Acho que vai ser um passo muito importante para as gerações futuras, que me verão como inspiração”

Heloyze Vieira, estudante

A aluna Heloyze Vieira, 17 anos, viu as fotos dos colegas do ano anterior e quis participar. Ela contou que, antes do projeto, estava passando por um período difícil. “Eu não estava conseguindo me aceitar e nem o meu cabelo. Sofri muito bullying por isso quando eu era pequenininha. O projeto foi a maneira de eu me aceitar como a única mulher preta de cabelo crespo da minha família. Acho que vai ser um passo muito importante para as gerações futuras, que me verão como inspiração”, avaliou.

O projeto também traz uma perspectiva de crescimento pessoal e profissional, por meio de uma carreira de modelo fotográfica. “Eu sempre quis ser modelo. Quando eu vi o projeto, pensei que era justamente a minha chance”, reconheceu Heloyze.

O estudante do CEM 03 Isaque de Oliveira, 17 anos, já tinha participado de outros ensaios fotográficos, e destacou a importância da representatividade que o projeto trouxe para os alunos. “Esse ensaio nos permite ver o mundo de um lugar diferente, nos sentimos acolhidos e com mais orgulho. Entendemos que todos nós somos lindos da maneira que a gente é, e não tem porque ter vergonha disso”.

Premiação

O projeto foi um dos destaques na segunda edição do Prêmio Paulo Freire de Educação da Câmara Legislativa do DF

O projeto tem como objetivo exaltar e valorizar a beleza negra e indígena, conforme a Lei nº 11.645 de 2008, que torna obrigatório no Brasil o estudo da história e da cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio.

Recentemente, o projeto foi contemplado na segunda edição do Prêmio Paulo Freire de Educação da Câmara Legislativa do DF. Com 264 projetos inscritos, o prêmio tem como objetivo reconhecer iniciativas educacionais inovadoras, transformadoras e alinhadas aos princípios formulados pelo pensador e educador Paulo Freire.

Dos 25 projetos selecionados como destaques, o Crespos & Cacheados foi o primeiro a ser contemplado. “Foi muito legal receber essa premiação na Câmara. Por uma questão de visibilidade mesmo, pois agora mais professores sabem que esses projetos existem, e podem replicá-los em suas escolas. Fiquei muito honrada e muito feliz com essa premiação”, disse a professora Regina.

*Com informações da Secretaria de Educação

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