O auditor fiscal da Receita aposentado Marcelo Ribeiro Alvim foi um dos alvos da segunda fase de Operação Publicanos, deflagrada na manhã desta sexta-feira (22/11) pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Marcelo é suspeito de receber valores para cancelar indevidamente certidões da dívida ativa do Atacadão Dia a Dia, por meio de “ato de ofício sem amparo legal e infringindo dever funcional”, segundo a PCDF. Até a mais recente atualização desta reportagem, o Metrópoles não havia conseguido contato com a defesa do investigado.
Servidor de carreira da Secretaria de Economia do Distrito Federal, Marcelo chegou a assumir o cargo de secretário-adjunto da Fazenda do Distrito Federal, mas foi exonerado da função em 18 de janeiro de 2024, por extinção do posto. Em 29 de maio último, ele se aposentou, voluntária e integralmente, da função de auditor fiscal da Receita.
Marcelo se aposentou com salário superior a R$ 30 mil, segundo o Portal da Transparência do Distrito Federal, referentes ao vencimento estipulado para o cargo de auditor fiscal. Incluídos benefícios, o alvo da Operação Publicanos recebe, mensalmente, cerca de R$ 45 mil líquidos desde que se tornou inativo.
O investigado foi nomeado auditor fiscal da Receita em 1991. Seis anos depois, tornou-se gerente de fiscalização da Secretaria de Fazenda do Distrito Federal. E, de 2001 a 2007, assumiu o cargo de chefe da Corregedoria Fazendária.
Em 2007, atuou como assessor especial do secretário de Fazenda. Em 2012, foi promovido a chefe do Núcleo do Impostos sobre Serviços da Secretaria. Dois anos depois, virou diretor da Diretoria de Contratos e Convênios do órgão. Também atuou como secretário executivo de Fazenda do Distrito Federal, em 2019, antes de ser nomeado secretário-adjunto de Fazenda, em 2023.
Graduado em direito e ciências contábeis pelo Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal (UDF), Marcelo é dono de uma empresa, a Msl Consultoria, aberta em julho deste ano, pouco depois da aposentadoria.
A operação
Marcelo e representantes do Atacadão Dia a Dia foram alvos dos seis mandados de busca e apreensão cumpridos nesta manhã. O servidor aposentado está proibido de exercer qualquer função pública por enquanto e de entrar na Secretaria de Economia do Distrito Federal.
“Após a primeira fase, deflagrada em abril deste ano, foram encontrados elementos de informação que robusteceram a hipótese inicial que apontava para o cancelamento indevido de Certidões de Dívida Ativa (CDA) visando beneficiar um grupo empresarial atuante nesta capital. As diligências apontaram para a existência de um esquema instalado no âmbito da Subsecretaria da Receita do Distrito Federal para patrocinar, de forma indevida, o referido grupo”, detalhou a PCDF.
Os policiais civis estiveram na casa do servidor aposentado, na sede da Surec, em outro setor da Secretaria de Economia e em endereços relacionados ao atacadista. As buscas visam à consolidação e a robustecer as provas obtidas na primeira fase da operação, para conclusão de inquérito em andamento, reforço dos indícios anteriores, direcionamento do andamento das investigações e verificação de outros eventuais envolvidos ou do cometimento de práticas semelhantes.
Os crimes são apurados pela Delegacia de Repressão à Corrupção (DRCor), vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), com apoio da Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Tributária (PDOT) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Os delitos investigados envolvem corrupção passiva, ativa e contra a ordem tributária. Somados, os tempos máximos das penas podem chegar a 20 anos de prisão.
Posicionamentos
Em nota, a Subsecretaria da Receita da Secretaria de Economia (Surec) informou que coopera “irrestritamente com o trabalho investigativo” da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
“A Subsecretaria da Receita da Secretaria de Economia tomou conhecimento nesta data da operação da Polícia Civil e desde então segue cooperando irrestritamente com o trabalho investigativo dos policiais. O servidor investigado é auditor fiscal aposentado e não ocupa cargo em comissão desde que a atual gestão da Secretaria de Economia assumiu a pasta”, informou a Surec, por meio de nota.
Também por meio de nota, o Grupo Dia a Dia negou ter relação com as investigações e comunicou que “não haverá afastamento de funcionário, uma vez que a acusação é improcedente”.
Leia a nota na íntegra:
“O grupo Dia a Dia repudia toda e qualquer prática ilícita, envolvendo corrupção ativa ou passiva, fraude ou outra configuração de crime contra os mecanismos legais da legislação brasileira
omos uma empresa idônea, com mais de 10 anos de mercado, nos quais foram prezados o cumprimento integral das obrigações legais, constituições privadas e públicas. Configurando, portanto, como um dos principais contribuintes do Distrito Federal.
Para isso, acreditamos no trabalho das autoridades, cientes de que, mais uma vez, a empresa será inocentada, pois não existe vínculo algum com a denúncia supracitada.
Reforçamos ainda que não haverá afastamento de funcionário, uma vez que a acusação é improcedente. Certos disso, nosso maior compromisso é com os nossos clientes, oferecendo o melhor atendimento e experiência de compra.”