Pela primeira vez desde que foi incentivado a entrar na disputa de 2022, o senador Tasso Jereissati (CE) admitiu participar de prévias do PSDB para a escolha do candidato à Presidência e construir uma terceira via, diante da polarização entre a esquerda e a extrema direita. “Se meu nome servir para unir, em algum momento, vamos trabalhar nessa direção”, disse o senador ao Estadão.
Classificado recentemente, por um outro parlamentar, como o “senador Coca-Cola”, Jereissati tem um patrimônio estimado em R$ 400 milhões, é um dos sócios do Grupo Jereissati, que comanda a Calila Participações, única acionista brasileira da Solar. Esta última empresa é uma das 20 maiores fabricantes de Coca-Cola do mundo.
Em 2008, o senador usou o cargo para tratar de atividade como investidor da Coca. Documento obtido pelo site O Joio e O Trigo comprova essa negociação, realizada no momento em que tramitava uma medida provisória a respeito dos impostos sobre bebidas não alcoólicas. O encontro contou com a participação do então secretário da Receita Federal, Carlos Alberto de Freitas Barreto.
A MP 436 foi apresentada três dias depois da sanção da Lei 11.727. Foi uma de muitas decisões repentinas tomadas pela equipe de Mantega quando se trata de tributação de refrigerantes. A lei originou-se de uma MP que, inicialmente, não abordava o tema. A inclusão do assunto foi feita pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), e representou a primeira vitória da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras), criada três anos antes por pequenas e médias empresas.
Desde 1989, vigia a tributação ad rem, ou seja, com um valor fixo. Assim, o imposto incidia do mesmo modo em produtos de preços diferentes, o que fazia com que a margem de lucro fosse menor para o mais barato. A Afrebras alegava que os fabricantes de menor porte pagavam 41,73% de imposto, contra 22,53% de Coca e Ambev.
A Afrebras saiu vitoriosa do primeiro embate, mas logo em seguida tomou o contra-ataque. A MP 436 previa postergar o início do novo regime de tributação e dava ao governo a possibilidade de manter o modelo ad rem. A incidência de imposto se daria sobre o valor-base calculado para um determinado grupo de produto, marca e tipo de embalagem. A instalação dos equipamentos medidores de produção, vetada dias antes por Lula, foi restituída.
O senador consolidou ao longo das últimas décadas o império erguido a partir do Grupo Jereissati. Ele comprou da própria Coca a Nordeste Refrigerantes (Norsa). E foi incorporando várias engarrafadoras, até realizar uma fusão com a Renosa e a Guararapes, o que o consolidou como segundo maior do Brasil, atrás apenas da Coca-Cola, e um dos vinte maiores do mundo. Em 2014, só a Recofarma, produtora dos concentrados da multinacional em Manaus, deu R﹩ 999 mil para a campanha eleitoral do tucano.
E essa é apenas uma das muitas histórias do senador Coca-Cola. Em 1998, o Sindicato dos Bancários do Ceará reproduziu matéria de capa publicada pela revista IstoÉ (ed. 1610), que denunciava Tasso Jereissati de beneficiar suas empresas com dinheiro público. De lá para cá, foram muitos os episódios de corrupção envolvendo o nome do nobre parlamentar.
Então, é óbvio que o senador Coca-Cola tem interesse direto no cargo presidencial, o mais alto do Brasil. Sua influência na franqueada “Solar”, empresa que industrializa produtos da Coca-Cola, não recolhe nenhum centavo de IPI quando vende seus produtos.
Mas a pergunta que não quer calar é: qual será a contribuição social desse senador ou possível Presidente da República?
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