A igreja Sara Nossa Terra (STN), fundada em 1992 pelo professor de física e bispo Robson Rodovalho e sua esposa bispa Lúcia Rodovalho, enfrenta nos bastidores um turbilhão de inusitadas situações que podem comprometer o futuro da denominação
Fundar uma igreja é relativamente fácil. Fazê-la crescer nacional e internacionalmente é um fenômeno espiritual extraordinário, mas manter seu legado é uma incógnita, cuja história registra vários fundadores que morreram ou passaram o cajado para algum parente, e o fim foi trágico, com o desmonte sistemático do ministério e a posterior extinção da denominação.
Na história recente do Brasil, alguns líderes evangélicos foram enganados e outros até mesmo sabotados por pessoas próximas que chegaram tempos depois da época das “vacas magras” e, ao deslumbrarem poder e dinheiro, resolveram agir de modo sorrateiro para assumir o lugar do presidente da instituição.
As Igrejas Deus é Amor e Bola de Neve enfrentaram situações pitorescas, e seus respectivos fundadores não lograram êxito em fazer sucessores autênticos. Suas respectivas famílias perderam espaço para pessoas de fora da linha sucessória.
EXEMPLO DE DAVID MIRANDA

David Martins Miranda foi criado em sítios e fazendas na cidade de Reserva, no interior do Paraná. Depois foi mecânico e escriturário numa fábrica de papel, a Klabin – tudo isso antes de se tornar um dos pastores mais populares no Brasil.
Católico fervoroso, era congregado mariano – seguidor da Congregação Mariana, uma associação de leigos católicos. Foi para São Paulo em 1957, e passou a frequentar, no centro da capital paulista, um templo evangélico, “Maravilhas de Jesus”, e lá se converteu.
Em junho de 1962, disse ter recebido uma “revelação” e um chamado de Deus para fundar a sua própria denominação, a Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA).
À frente de sua igreja, Miranda arregimentou fiéis que tornaram a Deus é Amor na 11ª maior denominação evangélica do país, com 845 mil fiéis – uma lista liderada pela Assembleia de Deus, com 12,3 milhões, segundo os dados mais recentes do IBGE (2010).
Após a morte do líder David Miranda em 2015, aos 78 anos, o comando da igreja passou à sua mulher Ereni. Agora, a matriarca e três dos quatro filhos do casal, além de netos e genros, estão envolvidos numa acirrada disputa judicial. Em jogo estão tanto o patrimônio milionário deixado pelo patriarca como o controle da igreja e sua doutrina, segundo denúncias de pastores e ex-fiéis.
O valor dos bens partilháveis de David Miranda foi estimado em seu inventário, em 2015, em R$ 86,3 milhões, de acordo com documento obtido pela BBC News Brasil.
Ele deixou aos seus herdeiros uma agência de turismo, emissoras de rádio, dezenas de imóveis, salas comerciais e carros luxuosos, além de aplicações financeiras. A briga foi parar nos tribunais, mas as ações em que irmãos e parentes disputam uns contra os outros seguem em segredo de Justiça.
Noticias em redes sociais, blogs e sites veem divulgando alegações sobre supostos desvios e condutas supostamente inadequadas de membros da família, alimentando uma espécie de novela em capítulos, com influenciadores do mundo religioso comentando o tema. O resultado é previsível no caso da Deus é Amor.
GENRO DE OLHO NA CADEIRA DE RODOVALHO
Lucas Cunha casou-se com Priscila, filha do casal Rodovalho. Logo depois assumiu o comando da igreja em Ceilândia, no Distrito Federal, mas nunca escondeu o desejo de suceder o bispo Robson Rodovalho no comando da SNT.
Fieis da igreja ouvidos pela redação, afirmaram que nos últimos anos a atuação do bispo Lucas para gradualmente afastar Rodovalho da liderança da SNT é visível e revoltante. Pastores ouvidos pela redação endossam o coro de revolta, pois, segundo eles, Lucas quer assumir o controle da Sara Nossa Terra e impor novas ideologias e formatos, como por exemplo, transformar a SNT em “Church”.
Fontes de dentro da SNT também informaram que Lucas teria dito em algumas ocasiões, de maneira quase reservada, que Rodovalho “está velho” para continuar no comando e que ele seria a tal “renovação”. O clima nos bastidores da igreja esquentou e o bispo Lucas decidiu passar um ano “sabático” nos EUA, e só deve retornar em julho com seu projeto de poder pronto para ser executado.
Antes de viajar aos EUA, Bispo Lucas conseguiu convencer Rodovalho a pregar menos nas noites de domingo e passou a convidar outros pregadores, além dele próprio para ministrar aos fieis. Lucas também quer vender a Rede Gênesis, que fatura milhões em publicidade e está em 3 mil cidades no Brasil.
INTERESSES POLÍTICOS DO BISPO LUCAS

Lucas nunca escondeu de ninguém seu desejo de se tornar político com o apoio da Sara Nossa Terra, mas quando entrou, um jovem pastor já atuava: Rodrigo Delmasso, que sempre leal ao bispo Rodovalho.

Delmasso foi eleito deputado distrital em 2014 (quinto mais votado com 20.894 votos) e reeleito em 2018 com 23.227 votos.
Tão logo Delmasso assumiu o mandato, bispo Lucas já impôs condições ao jovem parlamentar, que teve de abrigar parentes do aspirante a sucessor de Rodovalho. Ao longo dos anos, Lucas manteve irmãs e um irmão em cargos de destaque no gabinete de Delmasso, além de outras indicações.
Pelo Republicanos, que não conseguiu votos necessários para a legenda eleger dois distritais, Delmasso não foi reeleito em 2022, apesar de ter recebido 23.243 votos, tendo sido mais votado do que 15 deputados distritais eleitos, ou seja, foi o 16º na classificação geral, e obteve mais que o dobro da eleita Dayse Amarílio, com 11.012 votos.
Delmasso, que apoiou a reeleição do governador Ibaneis Rocha (MDB), assumiu em janeiro de 2023 a Secretaria da Família e Juventude do GDF, e novamente as “exigências” de Lucas voltaram com tudo, resultando na nomeação de pessoas ligadas a ele dentro da pasta. A influência de Lucas para melhorar o padrão de vida dos irmãos sempre foi notória e repulsiva dentro de alguns setores da SNT.

Lucas surpreendeu a SNT ao ignorar o longo trabalho de Delmasso na CLDF e impor, no fim do ano passado, apoio ao jovem André Kubitschek que disputará mandato de deputado distrital. A notícia surpreendeu e irritou muitos membros e pastores da SNT que em grupos no WhatsApp repudiam a atitude do bispo Lucas.
Aliás, segundo fontes, Lucas recomendou ainda que Rodovalho apoiasse Delmasso para deputado federal e André para distrital, fato que irritou bastante a base de Delmasso, que sempre agiu de forma leal aos interesses da Sara. A ideia de Lucas é eleger André distrital em 2026 e lançá-lo a federal em 2030 para ocupar seu espaço na CLDF.
Enquanto isso, a base política de Rodrigo Delmasso na Sara quer vê-lo de volta à Câmara Legislativa em 2026. Por outro lado, André Kubitschek não tem culpa alguma da derrapada política causada por Lucas dentro da igreja.
Quando o bispo Robson Rodovalho ingressou na política em 2006, a igreja sofreu bastante com a constante ausência do fundador nos cultos e reuniões ministeriais. Coube à bispa Lúcia Rodovalho segurar o ministério durante aquele período. Rodovalho não quis mais concorrer a mandatos eletivos e preferiu voltar a cuidar da igreja que fundou.
Quanto ao bispo Lucas, o poder parece ter lhe subido à cabeça. É preciso escolher entre o púlpito e o palanque. Também é preciso respeitar a história de vida, superação e muito trabalho do sogro no comando da denominação.
A Sara Nossa Terra vive momento de tensão, quando precisa tomar um decisão que defina, de forma humana, serena e absolutamente espiritual, seu futuro.

“Não dá para entregar um ministério gigante consolidado em todo o Brasil nas mãos de quem sonha atropelar o fundador e mudar o formato da igreja”, afirma uma fiel da igreja que pediu anonimato.
Dentro da Sara Nossa Terra, bispo Lucas já é visto como um perigo para o clã Rodovalho e para a própria igreja, que ama e respeita seus fundadores.
“Precisamos que nosso fundador e presidente preste atenção aos sinais e não caia em uma armadilha quanto à sucessão na igreja que, aliás, é prematura. Estamos de olho nos movimentos e estamos nos organizando para dar total apoio aos nossos bispos Robson e Lúcia Rodovalho. Não queremos mudanças radicais em nossa igreja, nem venda de apoio político a terceiros que verdadeiramente não fazem parte do Corpo de Cristo. Também não apoiaremos ninguém que ouse usar a SNT para fins próprios. Não haverá espaço para usurpadores e lutaremos pelos nossos fundadores dia e noite se preciso for porque foi Deus quem os escolheu para fundar e presidir esse ministério que tem transformado milhares de vidas”, afirmou respeitado pastor que pediu anonimato para não ser censurado pelo bispo Lucas.

Se depender de boa parte dos membros e pastores ouvidos pela redação, o melhor é o bispo Lucas continuar nos EUA, bem distante da sede da SARA NOSSA TERRA em Brasília, deixando o casal Rodovalho à vontade para continuar o ministério que fundaram com oração, suor e lágrimas. E deixar a política nas mãos de quem tem chamado para tal missão.
Caberá ao bispo Robson Rodovalho defender seu legado ou o genro.
Fonte: revistaevangelicabrasil.com.br
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