“Sabemos que a jornada de uma criança com câncer não pode depender do CEP em que ela nasce“, destaca Bianca Provedel, CEO do Instituto Ronald McDonald, que reflete sobre sua trajetória e o papel das mulheres na gestão de impacto social
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No Dia Internacional da Mulher (08 de março), é impossível ignorar a força e a resiliência das mulheres que lideram iniciativas de impacto social no Brasil. No terceiro setor, um campo tradicionalmente marcado pelo engajamento feminino, essas líderes não apenas transformam realidades, mas também redefinem padrões de gestão, transparência e inovação. Dados do Mapa das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) mostram que 65% dos colaboradores do Terceiro Setor são mulheres, sendo 46% ocupam cargos de liderança, o que evidencia a presença feminina e sua capacidade de promover mudanças estruturais na sociedade.
Essa representatividade é essencial para causas urgentes, como a luta contra o câncer infantojuvenil, a doença que mais causa mortes entre crianças e adolescentes no Brasil. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), entre 2023 e 2025, cerca de 7.930 novos casos devem ser registrados anualmente entre crianças e jovens de 0 a 19 anos. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são imprescindíveis para aumentar as chances de cura, podendo elevar as taxas de sobrevivência em até 80%, como nos países de alta renda. E é por isso que o Instituto Ronald McDonald se destaca como o maior investidor social privado em oncologia pediátrica no país.
Sob a liderança de Bianca Provedel, CEO da instituição e referência no setor, o Instituto tem ampliado seu impacto com programas que garantem acesso a diagnóstico precoce e preciso, tratamento especializado e qualidade de vida para pacientes e suas famílias. “Sabemos que a jornada de uma criança com câncer não pode depender do CEP em que ela nasce. No Norte do Brasil, a taxa média de sobrevivência é de 50%, enquanto no Sul chega a 75%. Isso é uma disparidade inaceitável, e o Instituto trabalha incansavelmente para reduzir esses gaps”, destaca a profissional.
Uma jornada de propósito e transformação
Neste ano, Bianca Provedel, psicóloga e jornalista, completa 20 anos no Instituto Ronald McDonald. Quando chegou à organização em 2005, ainda sem a noção de tudo o que viveria em sua trajetória, encontrou um propósito que transformaria não apenas sua carreira, mas também sua visão de mundo.
“Eu entrei para trabalhar com comunicação, sem imaginar que estava ingressando em uma missão. Ao longo dos anos, descobri que minha função ia além da comunicação: era sobre transformar vidas. Aprendi a ter paciência, resiliência e a confiar no processo. Hoje, olho para trás e vejo que cada desafio me fortaleceu para liderar com empatia e estratégia”, reflete Bianca.
Com uma trajetória marcada pela evolução pessoal e profissional, ela reconhece as mudanças que a experiência trouxe para sua forma de liderar. Antes mais rígida e combativa, hoje se destaca por uma abordagem mais flexível e empática, equilibrando exigência por performance com respeito à qualidade de vida dos colaboradores. “Aprendi que liderança não é sobre imposição, mas sobre negociação, inspiração e escuta ativa. Busco proporcionar um ambiente de trabalho harmonioso, onde cada pessoa se sinta valorizada”, destaca.
A força feminina no terceiro setor
A presença feminina no terceiro setor não é novidade, mas sua atuação estratégica e de grande influência tem se tornado cada vez mais evidente. O setor passou por uma transformação significativa nas últimas décadas, evoluindo de uma filantropia assistencialista para um modelo de impacto social estruturado e mensurável. Empresas e organizações sociais agora trabalham juntas, não apenas como doadoras, mas como agentes de transformação, integrando ESG (Environmental, Social and Governance) em suas estratégias.
“O terceiro setor amadureceu muito. Hoje, falamos de impacto social, governança, transparência e resultados mensuráveis. Não basta querer ajudar, é preciso estruturar ações eficazes e sustentáveis”, explica Bianca. Sob sua gestão, o Instituto Ronald McDonald fortaleceu suas iniciativas, garantindo que cada investimento gere mudanças reais e duradouras na vida das famílias atendidas.
O Instituto, que completa 26 anos de atuação em 2025, já investiu mais de R$ 422 milhões na oncologia pediátrica, impactando mais de 15 milhões de vidas direta e indiretamente. Uma de suas principais frentes de atuação é o Programa Diagnóstico Precoce do Câncer Infantojuvenil, que capacita profissionais e estudantes da saúde e profissionais da educação básica para identificar sinais e sintomas da doença e direcionar aos centros especializados. Até o momento, mais de 45 mil profissionais e estudantes da saúde já foram capacitados com a metodologia, além de professores de 300 escolas sensibilizados sobre a importância da detecção precoce.
Além disso, o Instituto mantém iniciativas como o Programa Casa Ronald McDonald e o Espaço da Família Ronald McDonald, que oferecem acolhimento e apoio psicossocial para reduzir as taxas de abandono do tratamento. Uma pesquisa recente revelou que 84,7% das famílias hospedadas nas sete unidades do Programa Casa Ronald McDonald afirmam que não teriam alternativa de moradia durante o tratamento, sendo que 72% delas vivem com, no máximo, um salário-mínimo. Os espaços também promovem inclusão social e autonomia para as famílias por meio de oficinas e atendimentos especializados. “Nosso compromisso é ir além do tratamento, oferecendo suporte integral às famílias que enfrentam o câncer infantojuvenil.”, explica Bianca.
O futuro do Instituto e o compromisso com as famílias
Olhando para o futuro, Bianca Provedel tem uma missão clara: ampliar o alcance do Instituto Ronald McDonald e garantir que nenhuma criança morra sem diagnóstico. Seu objetivo é remover todas as barreiras que impedem as famílias de acessarem um tratamento digno e humanizado. “Nossa missão vai além de garantir o tratamento médico – é sobre transformar a jornada das famílias. Meu maior objetivo é que possamos atender mais famílias e melhor, removendo todas as barreiras que dificultam o acesso à saúde. Nenhuma família deveria se desestruturar para garantir o tratamento do filho”, afirma.
A CEO enfatiza a importância de um olhar integral para essas famílias, promovendo não apenas a cura, mas também qualidade de vida. “Queremos que as crianças e suas famílias passem pelo tratamento com dignidade e que saiam dele não apenas curadas, mas fortalecidas, com perspectivas para o futuro. Nossa missão é garantir que esses pequenos pacientes continuem sonhando, brincando e vivendo como crianças, enquanto suas famílias encontram apoio para seguir em frente”, conclui.
Entre as estratégias para o futuro, Bianca destaca a ampliação do Programa Diagnóstico Precoce na região Norte, o fortalecimento e ampliação do Programa Casa Ronald McDonald e a busca por novos modelos de apoio. “Nossa visão é expandir nossas metodologias para outras patologias e fortalecer essa rede de acolhimento pelo Brasil. O terceiro setor tem um papel fundamental nesse processo, e queremos continuar sendo um exemplo de como o trabalho em conjunto pode transformar realidades”, conclui.
A atuação do Instituto Ronald McDonald também está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, com foco na promoção da saúde e do bem-estar. “A luta contra o câncer infantojuvenil é coletiva. Precisamos de mais investimentos, políticas públicas e engajamento da sociedade para alcançar a meta de 80% de sobrevivência. Meu compromisso e o do Instituto é não medir esforços para que nenhuma criança fique sem tratamento por falta de recursos ou informação”, explica.
O caminho para atuar no terceiro setor
Para aqueles que desejam ingressar no terceiro setor, Bianca Provedel destaca que, além da paixão pela causa, é essencial desenvolver habilidades como flexibilidade, empatia e visão estratégica. “A liderança no terceiro setor exige que saibamos negociar, tomar decisões assertivas e, acima de tudo, entender as necessidades das pessoas que atendemos. Eu aprendi que não se ganha todas as batalhas, mas precisamos escolher aquelas que realmente fazem a diferença”, reflete a CEO.
Bianca também enfatiza a importância da comunicação global. “Se tem algo que eu digo para qualquer profissional que quer crescer, principalmente no terceiro setor, é: invista em idiomas. Hoje, uso inglês e espanhol quase tanto quanto o português, e isso tem sido essencial para ampliar nosso impacto e trazer o Brasil para o spotlight no cenário global”, explica. Dados da Education First (EF) mostram que profissionais fluentes em inglês têm, em média, 50% mais oportunidades no mercado de trabalho, além de serem mais bem remunerados. No terceiro setor, a habilidade de se comunicar em outros idiomas permite parcerias estratégicas com instituições internacionais, captação de recursos e troca de conhecimento com especialistas de todo o mundo.
Com um olhar para o futuro, Bianca acredita que o terceiro setor está se tornando cada vez mais profissionalizado. “As organizações sociais não são mais vistas apenas como filantropia, mas como agentes reais de transformação. Precisamos de profissionais capacitados, que pensem grande e queiram fazer a diferença. O impacto social que geramos hoje é fruto da dedicação de muitas pessoas, e meu desejo é que cada vez mais talentos enxerguem o terceiro setor como um espaço de crescimento e inovação”, finaliza.
O post Terceiro Setor: Mulheres dominam o segmento que gera mais de 6 milhões de empregos no Brasil apareceu primeiro em Donny Silva.