Evento reuniu representantes do Governo Federal, Estadual, Fiesp e Ciesp
Energia limpa e transporte ferroviário podem ser os “carros-chefe” para o fortalecimento das relações bilaterais de comércio entre Brasil e Itália na visão de lideranças políticas e econômicas dos dois países, que participaram na manhã desta quarta (09), do Fórum Empresarial Brasil-Itália, que aconteceu em São Paulo, na sede das maiores entidades representativas da indústria no estado.
O vice-premiê italiano, Antonio Tajani, e uma comitiva de empresários foram recebidos pelo ministro da Casa Civil brasileiro, Rui Costa, o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes, e o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone. Durante o evento, foram assinados acordos de cooperação para aproximar Brasil e Itália.
Cervone explicou que a agroindústria brasileira está ligada diretamente à questão energética dos biocombustíveis e da biomassa. A energia solar, eólica e o SAF (Combustível Sustentável de Aviação) também foram pautados durante o evento. Após a abertura, Cervone ainda citou o transporte marítimo, o transporte ferroviário, incluindo o projeto federal de interligar, por ferrovia, os Oceanos Atlântico e Pacífico. Um mapa do projeto foi apresentado pelo ministro Rui Costa.
Metais raros
O presidente do Ciesp ainda citou como setores importantes para a relação Brasil-Itália o de infraestrutura para a produção de energia, a mineração e a siderurgia, com a extração de materiais raros, como o grafeno (transistores, chips, displays, sensores, baterias), nióbio (indústria aeroespacial, de biomedicina, eletrônica, de aço) e o molibdênio (aço inoxidável, ligas de alta temperatura, catalisadores).
“O Brasil hoje tem a segunda maior quantidade de metais raros no mundo, mas somos apenas o sétimo produtor. Precisamos incentivar e acelerar essa produção”, disse Cervone.
Ele ainda destacou o mercado brasileiro no setor de infraestrutura para tratamento de água, com base na nova legislação voltada ao saneamento básico do país, além do mercado aeroespacial e de alimentos, que são pontos fortes das economias brasileira e italiana hoje. Por fim, Cervone reforçou a possibilidade das join ventures (empreendimentos conjuntos) para fortalecer os laços italo-brasileiros.
“Como o ministro italiano falou, muitas vezes com o know how que o italiano tem, inclusive com design e matérias-primas avançadas, o Brasil tem algo muito complementar aqui com um mercado continental. Nós temos uma história muito grande, o Brasil é de longe, especialmente o Estado de São Paulo, a maior comunidade italiana do mundo, maior até do que a da própria Itália. É uma cultura que o brasileiro adora, que está no nosso DNA e, inclusive, no meu em particular. Então, essa aproximação tem tudo para dar certo”, disse Cervone.
Estima-se que 30 milhões de pessoas que vivem no Brasil sejam descendentes de italianos, sendo que 20 milhões vivem no estado de São Paulo.
O Presidente do Ciesp, Rafael Cervone, foi uma das lideranças empresariais que recebeu o vice-premiê italiano, Antonio Tajani, junto com Josué Gomes, presidente da Fiesp. O vice-governador, Felício Ramuth, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também foram anfitriões do fórum | imagem: Vitor Leite
Agenda Climática
Trajani disse durante o evento que a agenda climática precisa caminhar junto com a política industrial dos países. “A luta contra as mudanças climáticas é uma prioridade, mas como sempre dizemos, deve ter uma estratégia pragmática. Se esta luta se tornar ideológica, corremos o risco de travar uma batalha na teoria, sem obter resultados, penalizando antes a indústria, as empresas e a agricultura”, disse o vice-premiê italiano.
O presidente da Fiesp falou sobre a crise climática e reforçou a importância da transição energética. “Tem poucos países que podem oferecer as melhores condições para a transição energética como o Brasil, especialmente com investimentos de empresas italianas, que já têm investido pesadamente no setor energético brasileiro e são todas muito bem-vindas”, disse Gomes.
O ministro Rui Costa afirmou que o Brasil tem trabalhado pela modernização e fortalecimento de seus marcos regulatórios na área de energia, de forma que ofereçam segurança econômica, jurídica e previsibilidade para os investidores. Segundo ele, o mesmo vale para o setor de comunicação.
Ele destacou ainda que nesta terça (08), o Governo Federal institucionalizou o programa “Combustível do Futuro”, que cria um conjunto de incentivos e programas para a transição energética (substituição de energia de fontes fósseis por fontes renováveis).
A volta do transporte ferroviário
Durante a abertura do evento, as falas em defesa do resgate do transporte por trilhos no país chamaram a atenção. “Meus pais vinham para São Paulo de trem e eu tenho que vir de carro hoje. O Brasil errou na escolha do modal rodoviário e esqueceu do ferroviário. Então, isso entra na pauta também”, disse Cervone.
Tanto o Governo do Estado de São Paulo, quanto o Federal estão apostando na volta das linhas férreas, inclusive para escoar a produção.
“Do nosso projeto de melhoria em infraestrutura logística, o Brasil é um país continental, que não pode se dar ao luxo de querer transportar sua produção, sua carga, apenas por meio de rodovias. Isto é um custo alto para quem produz, para o governo e para o cidadão porque pagamos pela manutenção dessa imensa malha”, disse o ministro.
O vice-governador Felício Ramuth, ressaltou que cerca de 30% do comércio bilateral entre Brasil e Itália hoje acontece no estado de São Paulo. Ele disse que o Governo do Estado tem trabalhado em um programa ousado de concessões e privatizações e também destacou a expansão do sistema metro-ferroviário. “Infelizmente, lá no passado, o Brasil optou pelo transporte rodoviário, seguindo o modelo americano, ao invés do modelo europeu, com o transporte ferroviário”, disse Ramuth.
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