Carcaças de animais sacrificados ainda em decomposição e ossadas completamente esqueletizadas estão espalhadas a céu aberto por trevos e encruzilhadas na zona rural de Planaltina, próximo ao parque ecológico de Águas Emendadas. Os “cemitérios” de bichos mortos durante rituais se amontoam pelos canteiros em meio a alimentos, bebidas alcóolicas, cartas de baralho e até navalhas. Os restos mortais podem contaminar o solo e até os mananciais da região.
Ainda em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, que é constitucional o sacrifício de animais em cultos religiosos. Na ocasião, o relator, o então ministro Marco Aurélio Mello — atualmente aposentado — votou a favor do sacrifício em rituais de todas as religiões, não apenas as de matriz africana, desde que sem excessos e crueldade, mas restritos a ambientes fechados, jamais em vias públicas. Todos os ministros seguiram o mesmo entendimento à época.
Pelo menos em quatro encruzilhadas é possível encontrar as ossadas de porcos, cabritos, galinhas e até bois. Alguns ainda próximos de trabalhos ritualísticos. O volume de animais sacrificados no local é tão grande que há presença de urubus e um cheiro forte de putrefação é sentido a distância por quem atravessa as encruzilhadas a pé.
Veja imagens do “cemitério” de animais mortos em sacrifícios:
Suspeitas
A coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro Brasileira e Saúde (Renafro) em todo o Centro Oeste e presidente do Ilê Axé Oya Bagana, Adna Santos, conhecida como mãe Baiana, afirmou que as casas de candomblé costumam seguir uma série de diretrizes quando o assunto é o sacrifício de animais.
A religiosa ressaltou que todo ritual é feito em local controlado e que todos os bichos são consumidos após o rito. “Temos o que é chamado de quarto de santo, onde todo o trabalho é feito. Depois, os animais passam pelo mesmo processo que qualquer dona de casa faz quando cozinha para a família. Temos freezers onde toda a carne desses animais é estocada e depois consumida em nossas festas”, explicou.
Embora no vídeo enviado à reportagem a pessoa que faz a locução diga se tratar de algo feito por religiões de matriz africana, a mãe de santo acredita que os animais tenham sido sacrificados em rituais que não pertencem ao candomblé e à umbanda. “É uma falta de responsabilidade muito grande. É triste, inclusive, esse desperdício de um alimento que poderia estar sedo consumido por pessoas que precisam e passam necessidade”, ressaltou.